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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O que Jesus ensinou sobre ansiedade e depressão

"E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas" (Mt 5.41). Estas palavras de Jesus foram proferidas por ocasião do sermão da montanha. Ele se referia ao perdão e ao desejo de vingança. Entretanto, é possível perceber neste texto uma mensagem implícita de aceitação dos eventos. Longe de querer fazer apologia à falta de luta pelos próprios direitos ou à entrega absoluta ao desânimo diante das perturbações, o texto pode sugerir que quando se aceita uma adversidade, se tem mais chances de atravessá-la de forma menos danosa. 

Considerando a ansiedade e a depressão, sabe-se que estes transtornos, geralmente, surgem associados à falta de aceitação de algum evento passado ou à preocupação de que algo ocorra errado no futuro. As pessoas que têm dificuldade em aceitar uma perda, por exemplo, podem entrar em um transtorno depressivo com maior frequência do que as que são mais "conformadas" com as coisas que perdem.

No texto de Jesus, a expressão sugere que a pessoa forçada a caminhar uma milha, deverá caminhar outra, voluntariamente. Isto implica em não reclamar, não maldizer, nem enfrentar aquele que é mais poderoso. Lutar contra o opositor invencível poderá trazer mais dano do que aceitar o "castigo" imposto por ele. E isto está longe de significar comodismo ou inércia. Mas, sugere apenas que existem coisas sobre as quais não se podem resistir.

É importante frisar que a depressão e a ansiedade podem surgir porque alguém insiste em não "aceitar" que o parente morreu (e não voltará mais), ou que poderá morrer. A insistência em resistir a estas coisas, sobre as quais não se tem o controle, poderá culminar nos referidos transtornos mentais. 

Parece que Jesus estava ensinando que na vida não se pode ganhar sempre. Ele talvez quisesse mostrar que, em alguns momentos, as pessoas encontrarão obstáculos intransponíveis. E que, neste caso, o correto a fazer não é bater com a cabeça na dificuldade, mas aceitá-la, e desviar o trajeto por outro caminho.  Ele poderia estar querendo mostrar que sempre existirá outra forma de seguir em frente. O deprimido acredita, erradamente,  que não há mais alternativas.

Em outros textos, Jesus afirma que algumas coisas, como a altura de cada um, não poderão ser alteradas pela preocupação (falta de aceitação). Ele recomenda que as pessoas aprendam a aceitar estes fatos, se tornando menos ansiosos e inquietos (Mt 6. 25, 27, 28, 31). Muitas pessoas desenvolvem ansiedade social por não aceitarem sua própria aparência e acreditarem que as outras pessoas, também, não as aceitarão.

Esta série de afirmações sobre um comportamento de aceitação, termina com a ênfase nas fatalidades de cada dia (Mt 6.34). Jesus mostra que, por elas não poderem ser evitadas, deverão simplesmente ser aceitas. 

Se os ansiosos aceitassem que não podem controlar tudo, talvez se recuperassem do transtorno. Se os pais aceitassem que não podem evitar que os filhos sejam expostos a situações perigosas, que não conseguirão guardá-los em  uma vitrine, que acidentes poderão (ou não) ocorrer todos os dias, talvez não se tornassem tão cheios de pensamentos desagradáveis que alimentam a ansiedade.

Se as pessoas aceitassem as próprias limitações; se pedissem ajuda, ao invés de tentarem o impossível (às vezes, por orgulho); e se não resistissem ao tempo que envelhece e mata, talvez não fossem invadidas pela tão assustadora depressão.

Nas palavras de Jesus, "aceitação" aparece como a base para o bem-estar, pois quem não aceita, nunca fica satisfeito. Sem satisfação, qualquer vida poderá ser triste ou ansiosa. 

Então, poderá ser que o melhor a fazer seja aceitar a partida inesperada do filho amado, a fatalidade que ceifou parte do próprio corpo, o dinheiro perdido, o avançar da idade, o escurecer dos olhos, o cair dos dentes, o bambear das pernas, o tremor das mãos e todas as demais coisas, das quais o homem jamais terá como evitar. Resistir a estas coisas, só aumenta o sofrimento.

É bem provável que a "aceitação" sirva como uma forte medida preventiva contra sentimentos que deprimem e fazem a alma se tornar agitada como uma forte tempestade. 

Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160.  Contato: (83) 8745 4396.
  

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