Traição no casamento: é possível perdoar?

A traição é um tema tão antigo quanto complexo. Relatos bíblicos apontam para Adão como primeiro traidor quando preferiu quebrar seu pacto com o Criador e aderiu à sedução da serpente. Seu descente próximo, Caim, traiu o irmão enganando-o com pretexto de oferecer um sacrifício, quando sua intenção era matá-lo. Através dos tempos, ser traído tem configurado uma dor entranhavelmente difícil de suportar. Quando, portanto, o tema se volta para a relação conjugal, parece aumentar muitas vezes seu efeito danoso. Ser traído pelo cônjuge tem sido  uma das principais causas do divórcio.

O que sempre se pergunta quando existe um relato onde alguém foi traído no casamento, é se poderá haver perdão para o traidor. Para discutir sobre esta possibilidade, deve-se considerar alguns fatores antes de emitir qualquer opinião.

Primeiro é importante saber quais fatos levaram o "traidor" a se comportar desta maneira. Sem qualquer tentativa de justificar o ato, é bom frisar que muitas pessoas podem viver um momento de vulnerabilidade emocional. Muitos cônjuges sofrem quando seus parceiros não correspondem a suas expectativas emocionais. Às vezes, o marido é carinhoso mas a esposa o trata com desdém. Outras vezes, a mulher busca atenção e o esposo a despreza. 

Quando isto ocorre por muito tempo, e quando o cônjuge começa a se sentir rejeitado, e, ainda, quando conhece alguém que lhe oferece o carinho que o parceiro nega, pode acontecer de a tentação se tornar mais forte que a capacidade de reconhecer que  existe um compromisso matrimonial.

Isto não pode ser uma explicação que tenta justificar a traição, mas algo que deve ser considerado na hora de buscar compreender os motivos do outro. Em muitos casos, compreender é mais fácil que perdoar e, também, pode ser um passo importante no caminho da reconciliação.

Outro fator a considerar na hora da traição é o nível de arrependimento  da pessoa que traiu. É importante distinguir arrependimento e "cinismo". Quando alguém "cai na tentação" e se arrepende, torna-se evidente que ainda ama a pessoa traída, cabendo a esta avaliar se vale a pena um caminho em direção ao perdão. Quando fica claro que ainda existe amor, tanto no traído quanto no traidor, o perdão poderá ser um remédio bastante eficaz.

Ainda deve ser considerado que, quando se trata de relacionamento entre casais, a opinião de outras pessoas não pode influenciar a decisão para o perdão ou separação. Cada pessoa, com sua própria história de vida, encara uma traição segundo sua própria visão. Assim, o que é muito chocante para uma, poderá ter menor valor para outra.

Quando se procura compreender os reais motivos da traição, não tentando isentar o outro da culpa, é possível encontrar o caminho  para a reconstrução no relacionamento. Sempre considerando haver ainda a existência do amor, pois quando este acaba, mesmo não havendo traição, sucumbe-se o relacionamento. 

Ainda algo importante para se pensar é saber porque se deve perdoar. A pessoa ferida precisa conhecer se existe uma razão para liberar o perdão ao seu companheiro conjugal. Poderá ser que exista uma razão maior para o perdão e menor para a separação. Deverá prevalecer aquilo que trouxer menos prejuízo material, emocional, social e físico.

O casamento é um pacto sério onde dois devem lutar em todos os momentos para permanecerem unidos e felizes. Muitas vezes, um cônjuge está disposto a entregar sua própria vida pelo outro quando a doença chega, mas desiste facilmente de lutar pela mesma felicidade, quando se sente traído.

Separar-se e negar o perdão, muitas vezes, poderá trazer muito mais sofrimento do que compreender e perdoar. Cada um deve, portanto, avaliar a situação de forma racional, nunca permitindo que a emoção assuma o controle. Quem dirige a vida apenas pela emoção corre em risco de atrair muito sofrimento para si, pois as emoções flutuam como a boia jogada sobre as ondas, podendo, rapidamente, subir e descer.

Nunca se deve, também, esquecer que quem casa é como quem entra em um navio para uma grande viagem sobre o mar da vida. Em certo trecho da navegação, poderá haver tempestades com fortes vendavais. Estando juntos haverá maior possibilidade de se livrarem do naufrágio.

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