A responsabilidade dos
pais.
Frederico,
um paciente de treze anos, fora encaminhado pelos pais para atendimento
psicológico por apresentar muita desorganização com a vida. O garoto, segundo
relataram, não gostava de estudar, não cuidava do material escolar, nem
demonstrava qualquer responsabilidade. Mas a principal queixa era com relação à
arrumação do seu quarto. Os pais relataram que era “impossível” entrar nele,
sem pisarem algum objeto, espalhado pelo chão.
Na
primeira sessão, quando Frederico teve oportunidade de falar sobre a queixa
trazida pelos pais, tentou justificar seu comportamento “desorganizado” da
seguinte forma:
- Como
meu pai “pode” exigir que eu seja organizado, se o guarda-roupa dele é cheio de
roupas enroladas e sujas? Quando ele tira uma roupa, enrola fazendo uma bola,
tudo junto e joga lá. Já vi várias vezes brigas dele com minha mãe, por causa
disso. Quando ele come, e costuma comer “vendo televisão”, suja tudo e joga
muito lixo debaixo do sofá. Sai do banheiro molhado, sem secar os pés e joga a
toalha em qualquer móvel que encontra pela frente. Minha mãe vive gritando para
com ele, quando encontra a toalha suja e molhada em cima da cama. Como ele pode
falar de mim?...
Muitos
pais se decepcionam quando começam a perceber que seus filhos têm alguns
comportamentos rebeldes. Ficam chateados, tentam coibir de qualquer maneira e
frustram-se quando não conseguem administrar os fatos. Maior pavor existe
quando percebem que aquilo que os filhos praticam hoje é muito semelhante ao
que eles já fizeram nos tempos da adolescência. Existe, portanto, muito mais
dos pais nos filhos do que se possa compreender.
Alguns
acabam entendendo que o comportamento dos filhos é reflexo dos seus próprios,
mas outros tentam puni-los, numa tentativa inconsciente de negar as
próprias falhas.
Deve-se
perceber que, tanto a herança genética quanto a comportamental, exerce forte
influência nos comportamentos dos adolescentes. Quanto à genética, a
"culpa" dos pais torna-se indireta. É impossível evitar que os filhos
herdem os genes paternos. Mas, quando se fala de herança comportamental, existe
uma responsabilidade mais consciente dos genitores, sobre aqueles que
geraram.
Então,
os pais precisam aprender a administrar os próprios passos, fazendo com que os
filhos, que crescem ao lado deles, copiem bons modos para a formação de suas
personalidades. Isto é tão importante que, quando algum adulto começa a
analisar seus comportamentos, passa a perceber que a maneira de sentar-se, a
forma de caminhar, o jeito como gosta de determinadas coisas, o sotaque e
muitas outras preferências, são próximas demais daquilo que seus pais
costumavam apreciar. Logicamente, quanto mais próximos dos pais os
filhos são criados, maiores serão estas possibilidades. Isto, raramente, se
aplicará ao filho que foi educado pela tia, pelos avós ou pela babá.
Todos
já devem ter visto, numa roda de amigos, o pai bebendo e fumando, com o filho
no colo. Nada há de errado em divertir-se com o filho por perto, até é louvável
que pai e filhos estejam juntos. No entanto, se a criança cresce ao lado de um
pai que se diverte com amigos, bebidas e cigarro, não deverá ser surpresa
alguma se na adolescência ele, também, juntar-se com colegas para uma farrinha,
regada com álcool e cigarros. Como as estruturas emocionais e fisiológicas são
diferentes, o garoto poderá desenvolver muita dependência à substância e
tornar-se um viciado, mesmo que o pai tenha bebido apenas “socialmente”. Não dá
para omitir que seus primeiros encontros com as drogas aconteceram ainda
criança, no colo do papai.
É
provável que, após o vício se instalar, os conflitos familiares surjam e pai e
filho comecem a se agredir, um tentando impor sua posição sobre o outro. Talvez
nenhum se lembre das cenas da infância, onde a criança inalava a fumaça do
cigarro, que saia da boca do próprio pai. E é possível que nem mencionem que o cheiro
da cerveja já penetrava o nariz do garoto, desde aquela época, quando seu pai,
não o pai do colega, mas seu próprio pai bebia com ele no colo. Se todo pai
responsável pelos comportamentos disfuncionais dos filhos descobrisse o quanto
contribuiu para isto, haveria melhor critério na hora de corrigir uma rebeldia.
O
lado bom destas informações é que eles não herdam apenas os comportamentos
desagradáveis. Não aprendem somente grosserias, intolerâncias e atitudes
agressivas. Os filhos aprendem e imitam quase tudo o que os pais fazem. E,
assim, como copiam seus erros, fazem, também, tudo de bom que os virem praticar.
Poderão
existir exceções, pois o ser humano é uma máquina complexa, mas os homens
mansos de hoje devem ter convivido com pais pacíficos no passado. Aqueles que
hoje conseguem superar as frustrações da vida podem ter sido influenciados por
pais que não eram maldizentes ou esbravejadores. Infelizmente, nem sempre o
melhor exemplo vem dos que criam seus filhos. Às vezes, a criança recebe uma
influência melhor (e mais duradoura) de um parente, professor ou amigo, que
acaba anulando a pouca referência recebida de seus genitores.
Por
tudo isto, torna-se importante compreender que os pais precisam se tornar
modelos agradáveis para seus filhos. Renunciar uma crise de desespero, diante
de uma criança, poderá evitar que ela desenvolva pouca tolerância à frustração.
Poderá fazê-la perceber que, assim, como seus pais reagem bem às adversidades,
ela deverá agir com calma diante das intempéries da vida.
Os
pais nunca devem esquecer que seus pequeninos funcionam como "filmadoras
humanas", que registram todos os seus atos, processam em suas mentes e
passam a imitá-los, por toda a vida. Filhos podem até escolher profissões
diferentes das dos pais, mas serão muito mais propensos a seguir seus modelos
comportamentais. Certamente, verão a forma como os pais lidam com seus
ofícios. Se se mostrarem satisfeitos e felizes com o que fazem, os estimularão
a desejar serem o que hoje são. (OLIVEIRA, Joacil Luis. Adolescente Rebelde - Como Lidar? Chiado editora: Portugal, 2016).
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