O Alimento da Depressão

A depressão é alimentada basicamente por três componentes cognitivos. O primeiro diz respeito a forma como a pessoa se percebe; o segundo relaciona-se a maneira como o indivíduo vê o mundo; e o último componente da depressão está ligado à visão que a pessoa tem sobre o futuro. Portanto, a visão  de si, do mundo e do futuro formam uma tríade cognitiva que pode produzir, nutrir e sustentar um processo depressivo.

É claro que a depressão tem inúmeros fatores que podem ser tidos como desencadeadores, mas, quando se fala em processos cognitivos, a forma como determinados acontecimentos são interpretados pode ser fundamental no seu desenvolvimento. É importante ressaltar que não se devem descartar as causas biológicas, genéticas, nem ambientais, mas faz-se importante que se esmiúce  aquilo que pode ser fundamental na hora de se formar uma depressão.

Visão de si

A forma como a pessoa se enxerga ou se percebe pode modificar todo contexto de um evento externo. Uma criança que se percebe inferior ao irmão poderá sempre acreditar que é menos capaz e que seus pais não gostam muito dela por ser "fraca ou incapaz". Poderá acreditar que o outro será sempre melhor e mais querido e que as pessoas não irão gostar dela porque não é igual ao irmão.

Muitas vezes essa crença é alimenta por pais que, ingenuamente, fazem comparação entre os comportamentos dos filhos apontando que um é mais inteligente do que o outro.

A medida que a criança vai crescendo e interagindo com a sociedade, vai, também, aumentando a crença de que é sempre menos capaz do que ou outros. Tal pensamento pode levá-la a sempre ter um comportamento que mostre depreciação sobre sua própria estima. Ter uma baixa autoestima é um passo rápido para a depressão.

Visão do mundo

Evidentemente se alguém acredita que é inferior às demais pessoas e que nunca será tão capaz quanto ou outros, poderá crer que o mundo sempre será algo ameaçador para si. Pensará que nunca conseguirá atingir ou vencer os obstáculos que existem no ambiente externo. O mundo será sempre um monstro cuja força será maior que as suas. Tal pessoa encara a perda de um emprego como algo insuperável; pensa no final de um relacionamento como uma coisa totalmente destrutiva; encara uma doença como o final da vida. 

Quando a visão do mundo aponta para a fraqueza do indivíduo, este será sempre vulnerável e intolerante a fatores estressores. Será, sem dúvida, um forte candidato à depressão.

Visão do futuro

Algumas pessoas pensam no futuro como se ele estivesse no presente. Visualizam fatos catastróficos, estimulam emoções desagradáveis e se comportam como se aquilo realmente estivesse acontecendo. Não entram em uma faculdade porque acreditam que não conseguirão concluir o curso; não viajam porque pensam que poderão sofrer um grave acidente; não se casam porque acham que sofrerão com parceiros ruins; não se aventuram porque o medo e o pensamento desagradável sobre o futuro as aprisionam em um mundo depressivo e doente.

A depressão, portanto, é alimentada, em termos cognitivos, por pensamentos disfuncionais que a pessoa nutre sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro.

Investigar a forma como as pessoas interpretam os eventos da vida poderá ser de grande valia na hora de intervir em um estado depressivo. Fazer uma terapia voltada para uma reestruturação cognitiva poderá, inclusive, prevenir a entrada em uma depressão. Aprender a administrar os próprios pensamentos deveria ser algo cultivado pelas pessoas. A psicoterapia cognitivo-comportamental tem atuado na identificação e modificação de pensamentos disfuncionais, ensinando as pessoas a identificar e corrigir distorções em nível de pensamentos. Isto poderá prevenir, além da depressão, muitas outras psicopatologias com causas semelhantes.

Joacil Luis - Psicólogo - CRP13/ 6160  Contato: (83) 8745 4396.