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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

HITLER – DE ADOLESCENTE SONHADOR A PSICOPATA NEURÓTICO

             São inúmeros os adjetivos malévolos atribuídos ao ditador Hitler. Mundialmente, é conhecida sua história de sanguinário, louco por poder, impiedoso, desrespeitador de regras e convenções, insensível ao sofrimento alheio. Hitler tornou-se capaz de matar inocentes sem qualquer remorso, principalmente se estivessem entre os judeus, povo que o ditador considerava indigno de viver.
            Sua história de guerra deixou sequelas indescritíveis na humanidade. Portador de um sonho eugênico, era favorável à eliminação de vidas consideradas fracas. Entre estas, estavam os homossexuais, os judeus e os doentes mentais ou pessoas com deficiência. Assim, governou sob fortes projetos de assassinatos em massa, sobre os que eram considerados inferiores.
            Dentre as atrocidades do Führer encontram-se relatos de judeus que foram forçados a cavar as próprias covas, incêndio em aldeias consideradas inimigas com extermínio de mulheres e crianças inocentes, ordem para que fosse morto qualquer que fosse considerado inapto mental e fisicamente, e muitas outras que estão registradas nas múltiplas de crônicas sobre o Dominador alemão.
            Num perfil psicológico de Hitler, traçado pelo psicanalista americano Walter C. Langer, a pedido do chefe da OSS, agência americana que precedeu a CIA, o ditador é classificado como “um psicopata neurótico” (ROLAND, 2010; FEST, 2005; KERSHAW, 2010).

           
Contexto Familiar

            Segundo os autores supracitados, Hitler nasceu em uma família de classe média onde podia ter uma existência considerada confortável. Seu pai era um homem de pouca sensibilidade, com elevado teor de irritabilidade, sádico e tirano. Era incompreensível e exigente, descrito, pelo próprio filho, como “um beberrão”.
            Sua mãe era submissa, masoquista, superprotetora e ansiosa. Sofreu diversos abortos espontâneos antes do nascimento de Hitler.
            O irmão mais novo morreu aos seis anos de idade.
            Hitler odiava o pai e desejava sua morte. Chegava a fazer orações pedindo que isto acontecesse. Sua vontade foi satisfeita quando, no início da adolescência, perdeu o genitor. Por outro lado, amava a mãe, mas aproveitava-se de sua elevada tolerância materna.
Crenças sobre si

            Acreditava ser protegido por uma providência divina. Pensava ser especial e digno de toda a atenção da mãe. Achava que tudo conspirava para que ele fosse exclusivo. Quando seu irmão morreu, imaginou que isto advinha de uma providência superior para que ele ficasse sozinho desfrutando da atenção da mãe.

Contexto Social na infância

            A vida social do garoto Hitler foi marcada por exigências do pai, que pretendia fazer do filho um funcionário público e sua rejeição a tal desejo. Na escola primária, enquanto criança, obteve notas excelentes e chegou a ser tratado como superdotado. Nos anos de adolescência, quando entrou na escola secundária, seu comportamento elevou sua rejeição aos desejos paternos e diminuiu seu rendimento escolar.
            Descrito como um menino de poucos amigos, Hitler era tido como incapaz de aceitar a disciplina imposta pela escola, teimoso, esquisito, solitário e arrogante. As suas relações sociais eram pobres ou quase inexistentes. Ainda sobre sua adolescência, é mencionado como preguiçoso, emburrado, ressentido e sem propósito. Seu único amigo, um jovem filho de um decorador, era um rapaz submisso e sempre pronto a ouvir os devaneios do “esquisito” amigo.

Formando a personalidade Psicopática de Hitler

            O contexto histórico com que se apresenta a infância de Hitler enviesa-se por um extenso emaranhado de acontecimentos cujas consequências podem ter-lhe facilitado o desenvolvimento de uma personalidade psicopática.
            Tal contexto deve ser visto desde antes do seu nascimento. A história materna contém relatos de vários abortos espontâneos em uma época “pré-Hitler” (ROLAND, 2010). Pode ser provável que estes incidentes levaram a futura mãe de Hitler a aumentar o desejo de maternidade. Sendo assim, quando o feto conseguiu desenvolver-se sem maiores complicações, os cuidados foram redobrados. Ao nascer, portanto, Hitler passou a ser visto pela mãe como a criança esperada,  que preencheria suas expectativas de maternidade, ou ainda como alguém que merecia todo cuidado para não vir a morrer como seus irmãos que nem chegaram a nascer.
            Quando Kershaw (2010) relata a relação materna na infância de Hitller, descreve-a como uma “superproteção sufocante e ansiosa”.  É possível inferir que o medo de perder mais um filho, tenha levado ao exagero no cuidado.
            Mesmo que o pai de Hitler seja descrito como impiedoso, intolerante e rígido, na maior parte do tempo a criança estava ao lado da mãe, pois era esta quem o acalentava depois das surras que levava, tentando anular o efeito da rispidez do tratamento paterno (KERSHAW, 2010; FEST, 2005).
            É possível que dois vieses paradoxais começassem a se formar na mente do pequeno Hítler. Os carinhos da mãe, seus cuidados e superproteção lavavam o menino a sentir-se forte, especial e valoroso. Isto o levaria a pensar que poderia fazer qualquer coisa que seria acobertado pela genitora. Tal fato, associado ao conhecimento dos abortos anteriores que possivelmente eram comentados no ambiente familiar, fez o menino desenvolver a crença de que ele era forte, autônomo, privilegiado, diferente dos demais irmãos. Isto poderia fazer-lhe pensar que algo o protegia e que ele deveria ser melhor do que os outros.
            No entanto, em sentido contrário a suas crenças de superioridade, vinham as atitudes brutais do pai que o humilhava com surras rotineiras.  Caballo e Torrecillas (2008) citam castigos excessivos como fatores contribuintes da formação da personalidade psicopática.
            No decorrer do desenvolvimento de Hitler, os eventos foram enrijecendo suas crenças de superioridade, ao passo que esquemas em relação às outras pessoas, foram também evoluindo na mente do jovem.
            No contexto família, expressava um ódio pelo pai que se exacerbou quando presenciou uma cena de assédio brutal deste para com a mãe (ROLAND, 2010).  É possível que tenha passado a ver o pai como explorador e a mãe como vulnerável.
            Se o menino generalizou o evento, passou a ver as pessoas em sua volta como exploradoras e, ao mesmo tempo, vulneráveis.
            Quando Beck (2005) descreve sobre a presença de afeto em indivíduos antissociais, especifica a raiva como sentimento essencial, uma vez que tais pessoas acreditam que os outros têm aquilo que não merecem.  É a raiva que motiva o comportamento de agressão, manipulação e ataque, numa tentativa de tirar do outro aquilo que deve pertencer ao indivíduo psicopata.
            Como o menino Hitler amava a mãe, não podia admitir que o pai a abusasse de forma tão agressiva. É possível que o menino tenha tido desejos de lutar contra o pai para ter de volta a mãe que deveria ser “apenas sua”.
            Mas os problemas aumentaram quando, daquele assédio que presenciou, surge um irmão. O novo filho, além de ser fruto de um ato brutal do pai, tornou-se, para Hitler, um rival para disputar o amor materno.
            No entanto, aos seis anos de idade, Hitler viu seu irmão morrer e percebeu este evento como uma providência divina para que apenas ele desfrutasse do amor da mãe. É conjeturável que isto tenha reforçado sua crença de que era forte e autônomo, uma vez que apenas ele sobreviveu.
            Na escola primária, as crenças de Hitler sobre superioridade tiveram um campo fértil para se fortalecerem quando se destacou como bem dotado (FEST, 2005). Quando foi homenageado como aluno superdotado, pode ter tido pensamentos automáticos do tipo: “Sou melhor que os outros”, “Os outros são inferiores a mim”, “Devo ser especial”, “Ninguém se compara a mim”.
            Após esse período, no entanto, procurou atingir o pai, contrariando seus desejos, vindo a ser um péssimo aluno na escola secundária. Nessa época, como adolescente, já começavam a despontar os traços de um transtorno de conduta que seriam precursores da personalidade psicopática (BECK, 2005). Descrevendo sobre este comportamento juvenil Fest (2005) o retrata como “estranho, afetado e distante”, enquanto Kershaw (2010) fala de um jovem “incapaz de se adequar a disciplina escolar”.
            Sobre a falta disciplina, Beck (2005) enfatiza que pode estar alicerçada sobre o fato de que o indivíduo com personalidade psicopática acredita “ter direito de quebrar regras”.
            Uma vez acreditando ser especial, melhor que os outros, forte, autônomo e protegido por entidades divinas, Hitler tornou-se um jovem com sonhos ambiciosos e imponentes. No entanto, a história mostra que, ao tornar-se adulto, suas atitudes permaneceram antissociais e evoluíram para o que pode ser chamado de uma personalidade psicopática.
            A forma como administrou seu “reinado alemão”, sempre demonstrando uma sede insaciável de poder e glória, dispondo-se a eliminar raças e indivíduos “inferiores”, lutando veementemente para “purificar” os humanos através da matança daqueles que considerava “impuros” ou “indignos de viverem”, pode apoiar a ideia de que possuísse uma personalidade transtornada (ROLAND, 2010; FEST, 2005; KERSHAW, 2010).
(Joacil Luis -    Psicopatia à Luz da Teoria Cognitivo-comportamental. João Pessoa UNIPE, 2011. Monografia (Formação em Psicologia)).
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