Sua história de guerra deixou
sequelas indescritíveis na humanidade. Portador de um sonho eugênico, era
favorável à eliminação de vidas consideradas fracas. Entre estas, estavam os
homossexuais, os judeus e os doentes mentais ou pessoas com deficiência. Assim,
governou sob fortes projetos de assassinatos em massa, sobre os que eram
considerados inferiores.
Dentre as atrocidades do Führer
encontram-se relatos de judeus que foram forçados a cavar as próprias covas,
incêndio em aldeias consideradas inimigas com extermínio de mulheres e crianças
inocentes, ordem para que fosse morto qualquer que fosse considerado inapto
mental e fisicamente, e muitas outras que estão registradas nas múltiplas de
crônicas sobre o Dominador alemão.
Num perfil psicológico de Hitler,
traçado pelo psicanalista americano Walter C. Langer, a pedido do chefe da OSS,
agência americana que precedeu a CIA, o ditador é classificado como “um
psicopata neurótico” (ROLAND, 2010; FEST, 2005; KERSHAW, 2010).
Contexto Familiar
Segundo os autores supracitados,
Hitler nasceu em uma família de classe média onde podia ter uma existência
considerada confortável. Seu pai era um homem de pouca sensibilidade, com
elevado teor de irritabilidade, sádico e tirano. Era incompreensível e exigente,
descrito, pelo próprio filho, como “um beberrão”.
Sua mãe era submissa, masoquista, superprotetora
e ansiosa. Sofreu diversos abortos espontâneos antes do nascimento de Hitler.
O irmão mais novo morreu aos seis
anos de idade.
Hitler odiava o pai e desejava sua
morte. Chegava a fazer orações pedindo que isto acontecesse. Sua vontade foi satisfeita
quando, no início da adolescência, perdeu o genitor. Por outro lado, amava a
mãe, mas aproveitava-se de sua elevada tolerância materna.
Crenças sobre si
Acreditava ser protegido por uma
providência divina. Pensava ser especial e digno de toda a atenção da mãe.
Achava que tudo conspirava para que ele fosse exclusivo. Quando seu irmão
morreu, imaginou que isto advinha de uma providência superior para que ele
ficasse sozinho desfrutando da atenção da mãe.
Contexto Social na infância
A vida social do garoto Hitler foi
marcada por exigências do pai, que pretendia fazer do filho um funcionário
público e sua rejeição a tal desejo. Na escola primária, enquanto criança,
obteve notas excelentes e chegou a ser tratado como superdotado. Nos anos de
adolescência, quando entrou na escola secundária, seu comportamento elevou sua
rejeição aos desejos paternos e diminuiu seu rendimento escolar.
Descrito como um menino de poucos
amigos, Hitler era tido como incapaz de aceitar a disciplina imposta pela
escola, teimoso, esquisito, solitário e arrogante. As suas relações sociais
eram pobres ou quase inexistentes. Ainda sobre sua adolescência, é mencionado
como preguiçoso, emburrado, ressentido e sem propósito. Seu único amigo, um
jovem filho de um decorador, era um rapaz submisso e sempre pronto a ouvir os
devaneios do “esquisito” amigo.
Formando a personalidade Psicopática de Hitler
Formando a personalidade Psicopática de Hitler
O contexto histórico com que se
apresenta a infância de Hitler enviesa-se por um extenso emaranhado de
acontecimentos cujas consequências podem ter-lhe facilitado o desenvolvimento de
uma personalidade psicopática.
Tal contexto deve ser visto desde
antes do seu nascimento. A história materna contém relatos de vários abortos
espontâneos em uma época “pré-Hitler” (ROLAND, 2010). Pode ser provável que
estes incidentes levaram a futura mãe de Hitler a aumentar o desejo de
maternidade. Sendo assim, quando o feto conseguiu desenvolver-se sem maiores
complicações, os cuidados foram redobrados. Ao nascer, portanto, Hitler passou
a ser visto pela mãe como a criança esperada,
que preencheria suas expectativas de maternidade, ou ainda como alguém
que merecia todo cuidado para não vir a morrer como seus irmãos que nem
chegaram a nascer.
Quando Kershaw (2010) relata a
relação materna na infância de Hitller, descreve-a como uma “superproteção
sufocante e ansiosa”. É possível inferir
que o medo de perder mais um filho, tenha levado ao exagero no cuidado.
Mesmo que o pai de Hitler seja
descrito como impiedoso, intolerante e rígido, na maior parte do tempo a
criança estava ao lado da mãe, pois era esta quem o acalentava depois das
surras que levava, tentando anular o efeito da rispidez do tratamento paterno
(KERSHAW, 2010; FEST, 2005).
É possível que dois vieses
paradoxais começassem a se formar na mente do pequeno Hítler. Os carinhos da
mãe, seus cuidados e superproteção lavavam o menino a sentir-se forte, especial
e valoroso. Isto o levaria a pensar que poderia fazer qualquer coisa que seria
acobertado pela genitora. Tal fato, associado ao conhecimento dos abortos
anteriores que possivelmente eram comentados no ambiente familiar, fez o menino
desenvolver a crença de que ele era forte, autônomo, privilegiado, diferente
dos demais irmãos. Isto poderia fazer-lhe pensar que algo o protegia e que ele
deveria ser melhor do que os outros.
No entanto, em sentido contrário a
suas crenças de superioridade, vinham as atitudes brutais do pai que o
humilhava com surras rotineiras. Caballo
e Torrecillas (2008) citam castigos excessivos como fatores contribuintes da
formação da personalidade psicopática.
No decorrer do desenvolvimento de
Hitler, os eventos foram enrijecendo suas crenças de superioridade, ao passo que
esquemas em relação às outras pessoas, foram também evoluindo na mente do
jovem.
No contexto família, expressava um
ódio pelo pai que se exacerbou quando presenciou uma cena de assédio brutal
deste para com a mãe (ROLAND, 2010). É
possível que tenha passado a ver o pai como explorador e a mãe como vulnerável.
Se o menino generalizou o evento,
passou a ver as pessoas em sua volta como exploradoras e, ao mesmo tempo,
vulneráveis.
Quando Beck (2005) descreve sobre a
presença de afeto em indivíduos antissociais, especifica a raiva como
sentimento essencial, uma vez que tais pessoas acreditam que os outros têm
aquilo que não merecem. É a raiva que
motiva o comportamento de agressão, manipulação e ataque, numa tentativa de tirar
do outro aquilo que deve pertencer ao indivíduo psicopata.
Como o menino Hitler amava a mãe,
não podia admitir que o pai a abusasse de forma tão agressiva. É possível que o
menino tenha tido desejos de lutar contra o pai para ter de volta a mãe que
deveria ser “apenas sua”.
Mas os problemas aumentaram quando,
daquele assédio que presenciou, surge um irmão. O novo filho, além de ser fruto
de um ato brutal do pai, tornou-se, para Hitler, um rival para disputar o amor
materno.
No entanto, aos seis anos de idade,
Hitler viu seu irmão morrer e percebeu este evento como uma providência divina
para que apenas ele desfrutasse do amor da mãe. É conjeturável que isto tenha
reforçado sua crença de que era forte e autônomo, uma vez que apenas ele sobreviveu.
Na escola primária, as crenças de
Hitler sobre superioridade tiveram um campo fértil para se fortalecerem quando
se destacou como bem dotado (FEST, 2005). Quando foi homenageado como aluno
superdotado, pode ter tido pensamentos automáticos do tipo: “Sou melhor que os outros”, “Os outros são
inferiores a mim”, “Devo ser especial”, “Ninguém se compara a mim”.
Após esse período, no entanto,
procurou atingir o pai, contrariando seus desejos, vindo a ser um péssimo aluno
na escola secundária. Nessa época, como adolescente, já começavam a despontar
os traços de um transtorno de conduta que seriam precursores da personalidade
psicopática (BECK, 2005). Descrevendo sobre este comportamento juvenil Fest
(2005) o retrata como “estranho, afetado e distante”, enquanto Kershaw (2010)
fala de um jovem “incapaz de se adequar a disciplina escolar”.
Sobre a falta disciplina, Beck
(2005) enfatiza que pode estar alicerçada sobre o fato de que o indivíduo com
personalidade psicopática acredita “ter direito de quebrar regras”.
Uma vez acreditando ser especial,
melhor que os outros, forte, autônomo e protegido por entidades divinas, Hitler
tornou-se um jovem com sonhos ambiciosos e imponentes. No entanto, a história
mostra que, ao tornar-se adulto, suas atitudes permaneceram antissociais e
evoluíram para o que pode ser chamado de uma personalidade psicopática.
A forma como administrou seu
“reinado alemão”, sempre demonstrando uma sede insaciável de poder e glória,
dispondo-se a eliminar raças e indivíduos “inferiores”, lutando veementemente
para “purificar” os humanos através da matança daqueles que considerava “impuros”
ou “indignos de viverem”, pode apoiar a ideia de que possuísse uma
personalidade transtornada (ROLAND, 2010; FEST, 2005; KERSHAW, 2010).
(Joacil Luis - Psicopatia
à Luz da Teoria Cognitivo-comportamental. João Pessoa UNIPE, 2011.
Monografia (Formação em Psicologia)).
CRP 13/6160 Contato: (83) 8745 4396.
que lindo
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