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segunda-feira, 24 de março de 2014

Fatos sobre o Adolescente Rebelde - entrevista.

1. Um adolescente rebelde é reflexo de uma educação errada na infância? É culpa dos pais?
Eu costumo sempre culpar os pais. Mas, calma. Existe culpa direta e indireta.  Quando uma criança herda um gene dos pais, que possa exercer alguma influência no seu comportamento, isto não deixa de ser uma culpa, mas não direta. Os pais não podem evitar que os filhos herdem seus genes. Mas os filhos não têm culpa de terem herdado isto dos pais.  Entretanto, muitos fatores podem influenciar o comportamento de rebeldia. Dentre eles o ambiente, que diz respeito, também, à forma como foram educados ou como viram os pais resolverem seus conflitos. Os filhos são imitadores inconscientes dos pais. Casais que se agridem, ensinam os filhos a serem agressivos. Os pares, os jogos de videogames, os filmes e até a própria inexperiência com os conflitos da vida são desencadeadores de rebeldia. O jovem quer  aprender rápido, quer discordar, quer estar em evidência. Isto acaba levando para comportamentos precipitados. Mas o principal contexto, certamente se volta para os pais, pois são eles quem possuem as ferramentas mais adequadas para instruir os filhos. Pais precisam dispensar tempo para educar. Quando não fazem isto, outros o fazem, e de forma errada. Nisto consiste a culpa dos pais. São culpados por permitirem que seus filhos pequenos gastem mais tempo na internet do que com eles. Têm culpa por aceitarem o primeiro comportamento de isolamento, de forma passiva. São negligentes ao deixarem de examinar os contatos das redes sociais de seus filhos. E, são culpados, principalmente, por se tornarem tão ausentes. Grande parte dos filhos rebeldes que atendo em meu consultório queixa-se da ausência de seus pais. Eu gosto sempre de afirmar que se os pais não se dedicarão à educação de seus filhos, é melhor que não os gerem.

2. Os pais descontam a educação que tiveram (pais liberais ou ditatoriais demais)?
 Podem-se encontrar os dois extremos. Pais que tiveram uma educação rígida podem pensar que devem fazer o inverso com seus filhos. Então acabam liberando demais, o que traz prejuízo. Outros, foram muito exigidos e acreditam que seus filhos devem receber a mesma educação. Em ambos os casos há falha. Não se deve educar a geração de hoje pelas regras do passado. Deve haver uma adequação dentro daquilo que for possível. Tanto o excesso de privação quanto a liberdade em demasia pode ser prejudicial.

3. Quais as características, indícios de que algo está errado (mentiras, respostas aos pais, querem sair de casa, namoro, comprar coisas caras, amigos de má índole, drogas, sexo, bagunça, não querem estudar)?
 Na verdade o principal indício é o descumprimento das regras familiares (quando estas existem) ou das sociais, na ausência das de casa. O adolescente rebelde é um quebrador de regras. Ele quer mostrar que pode viver sem cumprir as normas. Quer ser livre. Apresenta-se como alguém sem qualquer vínculo à autoridade. Mas, muitas vezes, isto é apenas uma forma de gritar para o mundo que ele está ali. Que precisa ser visto. Enfrentar os pais poderá ser apenas uma forma de querer ser guardado e cuidado por eles, de forma funcional. Os adolescentes não se juntam a amigos de má índole, por causa do comportamento “ruim” do outro, mas por necessitar de companheirismo e de atenção. Quando um jovem se sente preterido em casa e encontra acolhida nos amigos, certamente não irá avaliar (até porque não tem maturidade para isto) como tais colegas se comportam. Naquele momento, ele recebeu atenção, cuidado, “proteção”. Isto era tudo que lhe faltava em casa.

4. Qual a influência dos ídolos teens (Justin Bieber, Miley Cirus)?
Não deveriam ter qualquer influência. Mas, quando os pais deixam de referenciar os filhos, eles passam a buscar isto em qualquer “coisa”, inclusive nos ídolos. Adolescentes que receberam uma boa influência dos pais para seus comportamentos, não se deixam influenciar por ídolos. Eles ouvem a música, assistem aos filmes, mas permanecem com a educação que receberam em casa. São capazes, inclusive, de criticar um comportamento inadequado de um artista qualquer. Têm menos inclinação ao fanatismo, porque têm uma melhor estrutura emocional.  É muito importante frisar, que a educação dos pais funciona como filtro para todas as outras. Os jovens comparam tudo que aprendem fora de casa com aquilo que os pais ensinaram. Quando falta este ensino, não há um referencial para embasar a vida. Passam a aceitar qualquer coisa como certa. Seguem os hábitos de qualquer um como se fossem corretos. Imitam os ídolos, os personagens infantis, os monstros, etc.  Isto os faz serem parecidos com qualquer “coisa”, menos com os pais.

5. Por que os jovens ficam rebeldes? É uma necessidade de auto-afirmação? Se sentem pressionados nos dias atuais?
A rebeldia é comportamento. Pode ocorrer por vários fatores e pode durar para sempre ou ser transitória. Tudo depende do contexto ou da fonte deste comportamento. Um adolescente poderá apresentar rebeldia porque não entendeu ou não resolveu bem o divórcio dos pais. Poderá estar sentindo a ausência de um dos genitores. A falta de habilidade e a inexperiência poderão levá-lo a comportar-se como rebelde. Neste caso, uma boa interação dos pais, um acompanhamento psicológico e o próprio tempo poderão fazer com que tudo volte a ser como antes. Quanto maior o nível da revolta, mais duradoura poderá se apresentar a rebeldia. Ela sempre poderá estar associada a algo que a motive, seja em nível consciente ou inconsciente. Não se deve, no entanto, confundir rebeldia de adolescente, que tem um nível transitório, com transtorno de conduta, que poderá evoluir para uma psicopatia. Neste último a herança genética poderá ser muito mais influente. Cabe, também, salientar que alguns adolescentes são rebeldes simplesmente porque não aprenderam a resolver seus conflitos de uma forma mais funcional.

6. Como os pais devem lidar com isso? Como resolver a situação?
Devem antes de qualquer coisa, conhecer seus filhos. Desenvolver capacidade de ouvi-los. Os pais de hoje são muito apressados. Acabam não tendo tempo para a família. Filhos precisam de pais que sentem com eles, que dividam um sanduíche, que ouçam seus poemas românticos, que joguem bola no quintal, que escutem suas queixas. Se fizerem assim, talvez nem exista rebeldia para ser corrigida. Os pais precisam ensinar os filhos a desligar mais os celulares e a exercitar o diálogo. Devem presentear com mais abraços e beijos e com menos instrumentos eletrônicos. Eu diria para eles: queridos pais, seus filhos serão bem melhores se receberem menos jogos de videogames e mais carinhos, se tiverem menos dinheiro no bolso e mais amor no coração, se ouvirem menos músicas e mais a voz de vocês. Filhos precisam menos, muito menos, de bens materiais para serem felizes e “funcionais”.

7. Atividades como esportes podem melhorar a situação?
Isto vai depender do problema que alimenta a rebeldia. Se um adolescente se sente injustiçado porque é tratado com distinção entre os irmãos (tem pais que fazem isto), praticar esporte não poderá ajudar muito.  Mas se um garoto tem TDAH e sua hiperatividade é confundida com rebeldia, é provável que o esporte o ajude, de certa forma. No entanto, se o jovem gosta de determinado esporte e tem a chance de praticá-lo, isto poderá abrir uma porta para uma boa conversa. Por trás de boas associações esportivas, que prestam serviço voluntário para jovens de favela, existe um programa de educação. Esta associação (educação x esporte) é benéfica. O jovem é atraído pelo esporte e se prontifica a ouvir as regras para sua própria vida. Muitos obedecem mais ao instrutor do que aos pais. Isto é bom para a correção da rebeldia. 

8. E qual papel da escola e da igreja?


Podem funcionar (e sempre funcionam) como coadjuvantes, fortalecendo aquilo que os pais começaram a construir. Tanto a escola quanto a igreja desempenham um papel fundamental na educação dos jovens. Estas instituições fortalecem educação enfraquecida e, muitas vezes, acabam se tornando a única instrutora da garotada. Mas é uma pena quando os pais esquecem seu papel e deixam para os de fora a grande e gratificante tarefa de educar os filhos, pois estes, antes de entrarem na igreja ou na escola, habitaram em um lar. 

Entrevista concedida ao Jornal Agora SP. São Paulo. Em 09/03/2014.   Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160. Contato: (83) 8745 4396.

2 comentários:

  1. Adorei o artigo! Meus pais dizem que a rebeldia vem da índole da pessoa, eu acredito que em certos casos sim, mas na maioria das vezes acredito que o ambiente em que vive, a base que os pais constroem, o relacionamento, influencia em muito! A não ser em casos como a citada psicopatia.
    Abraços!

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    1. obrigado, Flavia. Aproveito para lhe recomendar meu livro Adolescente Rebelde - Como Lidar? Você pode adquiri-lo clicando no link, no topo desta pagina. Abraço

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