1. Um
adolescente rebelde é reflexo de uma educação errada na infância? É culpa dos
pais?
Eu costumo sempre culpar os pais. Mas, calma.
Existe culpa direta e indireta. Quando
uma criança herda um gene dos pais, que possa exercer alguma influência no seu
comportamento, isto não deixa de ser uma culpa, mas não direta. Os pais não
podem evitar que os filhos herdem seus genes. Mas os filhos não têm culpa de
terem herdado isto dos pais. Entretanto,
muitos fatores podem influenciar o comportamento de rebeldia. Dentre eles o
ambiente, que diz respeito, também, à forma como foram educados ou como viram
os pais resolverem seus conflitos. Os filhos são imitadores inconscientes dos
pais. Casais que se agridem, ensinam os filhos a serem agressivos. Os pares, os
jogos de videogames, os filmes e até a própria inexperiência com os conflitos
da vida são desencadeadores de rebeldia. O jovem quer aprender rápido, quer discordar, quer estar
em evidência. Isto acaba levando para comportamentos precipitados. Mas o principal
contexto, certamente se volta para os pais, pois são eles quem possuem as
ferramentas mais adequadas para instruir os filhos. Pais precisam dispensar
tempo para educar. Quando não fazem isto, outros o fazem, e de forma errada.
Nisto consiste a culpa dos pais. São culpados por permitirem que seus filhos
pequenos gastem mais tempo na internet do que com eles. Têm culpa por
aceitarem o primeiro comportamento de isolamento, de forma passiva. São
negligentes ao deixarem de examinar os contatos das redes sociais de seus
filhos. E, são culpados, principalmente, por se tornarem tão ausentes. Grande
parte dos filhos rebeldes que atendo em meu consultório queixa-se da ausência
de seus pais. Eu gosto sempre de afirmar que se os pais não se dedicarão à educação de seus filhos, é melhor que não os gerem.
2. Os
pais descontam a educação que tiveram (pais liberais ou ditatoriais demais)?
Podem-se encontrar os dois extremos. Pais que
tiveram uma educação rígida podem pensar que devem fazer o inverso com seus
filhos. Então acabam liberando demais, o que traz prejuízo. Outros, foram muito
exigidos e acreditam que seus filhos devem receber a mesma educação. Em ambos
os casos há falha. Não se deve educar a geração de hoje pelas regras do
passado. Deve haver uma adequação dentro daquilo que for possível. Tanto o
excesso de privação quanto a liberdade em demasia pode ser prejudicial.
3. Quais
as características, indícios de que algo está errado (mentiras, respostas aos
pais, querem sair de casa, namoro, comprar coisas caras, amigos de má índole,
drogas, sexo, bagunça, não querem estudar)?
Na verdade o principal indício é o
descumprimento das regras familiares (quando estas existem) ou das sociais, na
ausência das de casa. O adolescente rebelde é um quebrador de regras. Ele quer
mostrar que pode viver sem cumprir as normas. Quer ser livre. Apresenta-se
como alguém sem qualquer vínculo à autoridade. Mas, muitas vezes, isto é apenas
uma forma de gritar para o mundo que ele está ali. Que precisa ser visto. Enfrentar
os pais poderá ser apenas uma forma de querer ser guardado e cuidado por eles,
de forma funcional. Os adolescentes não se juntam a amigos de má índole, por
causa do comportamento “ruim” do outro, mas por necessitar de companheirismo e
de atenção. Quando um jovem se sente preterido em casa e encontra acolhida nos
amigos, certamente não irá avaliar (até porque não tem maturidade para isto)
como tais colegas se comportam. Naquele momento, ele recebeu atenção, cuidado,
“proteção”. Isto era tudo que lhe faltava em casa.
4. Qual a
influência dos ídolos teens (Justin Bieber, Miley Cirus)?
Não deveriam ter qualquer influência. Mas,
quando os pais deixam de referenciar os filhos, eles passam a buscar isto em
qualquer “coisa”, inclusive nos ídolos. Adolescentes que receberam uma boa
influência dos pais para seus comportamentos, não se deixam influenciar por
ídolos. Eles ouvem a música, assistem aos filmes, mas permanecem com a educação
que receberam em casa. São capazes, inclusive, de criticar um comportamento
inadequado de um artista qualquer. Têm menos inclinação ao fanatismo, porque
têm uma melhor estrutura emocional. É
muito importante frisar, que a educação dos pais funciona como filtro para
todas as outras. Os jovens comparam tudo que aprendem fora de casa com aquilo
que os pais ensinaram. Quando falta este ensino, não há um referencial para
embasar a vida. Passam a aceitar qualquer coisa como certa. Seguem os hábitos
de qualquer um como se fossem corretos. Imitam os ídolos, os personagens
infantis, os monstros, etc. Isto os faz
serem parecidos com qualquer “coisa”, menos com os pais.
5. Por
que os jovens ficam rebeldes? É uma necessidade de auto-afirmação? Se sentem
pressionados nos dias atuais?
A rebeldia é comportamento. Pode ocorrer por
vários fatores e pode durar para sempre ou ser transitória. Tudo depende do
contexto ou da fonte deste comportamento. Um adolescente poderá apresentar
rebeldia porque não entendeu ou não resolveu bem o divórcio dos pais. Poderá estar sentindo a ausência de um dos genitores. A falta de habilidade e a
inexperiência poderão levá-lo a comportar-se como rebelde. Neste caso, uma boa
interação dos pais, um acompanhamento psicológico e o próprio tempo poderão
fazer com que tudo volte a ser como antes. Quanto maior o nível da revolta,
mais duradoura poderá se apresentar a rebeldia. Ela sempre poderá estar
associada a algo que a motive, seja em nível consciente ou inconsciente. Não se
deve, no entanto, confundir rebeldia de adolescente, que tem um nível
transitório, com transtorno de conduta, que poderá evoluir para uma psicopatia.
Neste último a herança genética poderá ser muito mais influente. Cabe, também,
salientar que alguns adolescentes são rebeldes simplesmente porque não
aprenderam a resolver seus conflitos de uma forma mais funcional.
6. Como
os pais devem lidar com isso? Como resolver a situação?
Devem antes de qualquer coisa, conhecer seus
filhos. Desenvolver capacidade de ouvi-los. Os pais de hoje são muito
apressados. Acabam não tendo tempo para a família. Filhos precisam de pais que
sentem com eles, que dividam um sanduíche, que ouçam seus poemas românticos,
que joguem bola no quintal, que escutem suas queixas. Se fizerem assim, talvez
nem exista rebeldia para ser corrigida. Os pais precisam ensinar os filhos a
desligar mais os celulares e a exercitar o diálogo. Devem presentear com mais
abraços e beijos e com menos instrumentos eletrônicos. Eu diria para eles:
queridos pais, seus filhos serão bem melhores se receberem menos jogos de videogames e mais carinhos, se tiverem menos dinheiro no bolso e mais amor no
coração, se ouvirem menos músicas e mais a voz de vocês. Filhos precisam menos,
muito menos, de bens materiais para serem felizes e “funcionais”.
7.
Atividades como esportes podem melhorar a situação?
Isto vai depender do problema que alimenta a rebeldia.
Se um adolescente se sente injustiçado porque é tratado com distinção entre os
irmãos (tem pais que fazem isto), praticar esporte não poderá ajudar
muito. Mas se um garoto tem TDAH e sua
hiperatividade é confundida com rebeldia, é provável que o esporte o ajude, de
certa forma. No entanto, se o jovem gosta de determinado esporte e tem a chance
de praticá-lo, isto poderá abrir uma porta para uma boa conversa. Por trás de
boas associações esportivas, que prestam serviço voluntário para jovens de
favela, existe um programa de educação. Esta associação (educação x esporte) é benéfica.
O jovem é atraído pelo esporte e se prontifica a ouvir as regras para sua
própria vida. Muitos obedecem mais ao instrutor do que aos pais. Isto é bom
para a correção da rebeldia.
8. E qual
papel da escola e da igreja?
Podem funcionar (e sempre
funcionam) como coadjuvantes, fortalecendo aquilo que os pais começaram a
construir. Tanto a escola quanto a igreja desempenham um papel fundamental na
educação dos jovens. Estas instituições fortalecem educação enfraquecida e,
muitas vezes, acabam se tornando a única instrutora da garotada. Mas é uma pena
quando os pais esquecem seu papel e deixam para os de fora a grande e gratificante
tarefa de educar os filhos, pois estes, antes de entrarem na igreja ou na
escola, habitaram em um lar.
Entrevista concedida ao Jornal Agora SP. São Paulo. Em 09/03/2014. Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160. Contato: (83) 8745 4396.
Adorei o artigo! Meus pais dizem que a rebeldia vem da índole da pessoa, eu acredito que em certos casos sim, mas na maioria das vezes acredito que o ambiente em que vive, a base que os pais constroem, o relacionamento, influencia em muito! A não ser em casos como a citada psicopatia.
ResponderExcluirAbraços!
obrigado, Flavia. Aproveito para lhe recomendar meu livro Adolescente Rebelde - Como Lidar? Você pode adquiri-lo clicando no link, no topo desta pagina. Abraço
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