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sábado, 6 de fevereiro de 2016

Como vai a sua vida virtual?

Os tempos mudaram e as pessoas inovaram a forma de se comportar. E, também, adquiriram modos diferentes de interagirem entre si. O diálogo deu lugar às pequenas frases elaboradas de maneira abreviada e direta; bem, nem tão diretas. Muitos abraços foram substituídos pelo envio de figurinhas que expressam quase tudo que se queira fazer. Tem mão, pé, coração, saudade, amor, raiva, alegria e muita coisa que pode ser "dita" com apenas um clique. Tudo ficou tão fácil, tão simples, tão perto!


É a nova vida que todos querem experimentar. A vida rápida, acessível, desinibida, colorida e cheia de atrativos. A cada instante algo incrível a ser visto. Uma curtida, um compartilhamento, uma notícia sobre alguém. Tudo tão instantâneo que nem dá vontade de se desconectar deste mundo "mágico". É tudo tão bacana, tão divertido, tão atraente!

E, se não gostar de alguém, um simples apertar de botão o retira do caminho. Se a frase não foi interessante, não será curtida e pode até ser ocultada. Trata-se de um mundo tão fácil e tão descartável. É possível construir uma rede de milhares de amigos, de fãs e de seguidores, sem precisar olhar nos olhos de nenhum e sem que seja necessário saber se eles são da mesma forma que se apresentam. 

Neste mundo fantástico, a mentira se torna uma ferramenta interessante. O rosto feio pode ser disfarçado; o pequeno se mostra como gigante; o tímido é quem mais fala; o solitário tem muitos amigos; se não tiver dinheiro ninguém precisa saber, pois a melhor grife pode ser usada em todas as fotos; e ninguém tem o menor interesse em discutir a veracidade daquilo que é apresentado. 

E, diante disto, não há porque querer voltar à realidade. As praças ficam cada vez mais em silêncio; as famílias interagem bem menos fisicamente; os pais não ouvem as queixas dos filhos; os esposos não trocam confidências; e o mundo cheio de pessoas "plugadas" se torna muito mais opaco, quando visto do lado de fora de uma "telinha" qualquer. 

É que este mundo eletrônico, que mostra tudo sem precisar esperar ou sem necessitar ser julgado, se envolve nos sonhos das pessoas, alimenta a fantasia das crianças, facilita os prazeres dos adultos e seduz a todos como um grande imã que atrai, irresistivelmente, tudo para si. 

E, assim, é possível viver sem falar que ama, sem dizer que sente muito, sem apertar a mão, sem beijar os filhos ou os pais; é provável que se viva sem acolher o carente, sem estender a mão ao que sofre e sem ouvir a voz de alguém que pede socorro; pode-se não precisar de cumprimentar o vizinho ou de dizer ao colega, olhando em seus olhos, o quanto ele é importante como pessoa; mas, sem o brilho contagiante das telas coloridas do mundo virtual, é bem mais difícil que alguém se disponha a viver. 

Mas, não sabemos como tudo vai terminar. Qual dos mundos irá vencer. Se algum deles será extinto ou poderá haver conciliação entre ambos. O que sabemos até agora é que a cada instante o virtual "engole" o real e os fatos enfraquecem diante das hipóteses. Também, não sabemos se isto deve ser curtido ou aplaudido, excluído ou vaiado, compartilhado ou difundido com as próprias mãos.  

Sabemos, porém, que não é possível enxugar uma lágrima apenas apertando um botão, nem abraçar, afetuosamente, usando um mouse qualquer. Sabemos, ainda, que as pessoas estão cada vez mais carentes de serem tocadas, abraçadas, ouvidas, apoiadas e socializadas. E que, talvez, o mundo virtual jamais possa oferecer estes simples e gratuitos atrativos. 


Parece que estas são as únicas coisas que o virtual não pode oferecer e, talvez, seja por isto que infinitas outras são ofertadas como substitutas. E quem nunca as teve pode, facilmente, optar pelo plágio mal elaborado. Mas, para quem já provou o gosto do contato real, nunca se satisfará com imagens, animações, cores e brilhos desprovidos de qualquer resquício de calor humano.


Talvez o virtual seja divertido e ajude a passar o tempo, mas pode ser que seja o grande vilão de uma geração psicologicamente "doente", pois nunca a depressão foi tão presente, nem a ansiedade tão forte na vida de um povo, como na atualidade cheia de atrativos tecnológicos.


Parece ficar cada vez mais evidente que os programas virtuais de transformação da aparência não conseguem mudar um milímetro, além daquilo que é apenas imaginário.


Nunca pensei em afirmar que o mundo virtual fosse mau, mas nunca pude me convencer de que ele não fosse responsável por muitas mentes mal desenvolvidas e desestruturadas, incapazes de se firmarem sobre as próprias convicções. Tenho encontrado pessoas jovens e fortes que se tornam cada vez menos lúcidas, à medida que imergem no oceano virtual.


E, como sei que daquilo de que não conseguimos nos desligar nos tornamos servos, penso que o mundo virtual é o senhor de muita gente. E um senhor exigente e exclusivista que requer, a qualquer custo, dedicação total.


Então, posso acreditar que o maior desafio não é afastar-se da virtualidade atraente e até necessária do mundo tecnológico, mas conseguir usá-la sem se despersonalizar, sem abandonar a realidade e sem submeter-se a ela, como um escravo fraco e indefeso.

Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160  Contato: (83) 98745 4396.

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