Adolescência deriva-se de uma expressão latina que traz sentido de
crescimento e maioridade. Para Myers (2006, p. 112), “é a vida entre o fim da
infância e a idade adulta”. É um período de descobertas e de conflitos internos
gerados pela própria peculiaridade do estágio. Para alguns
teóricos, compreende as idades entre 12 de 18 anos. Essa faixa etária é também
aceita pelo ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 2004, p.19).
Para Tiba (1986, p. 37), o início da fase “está nitidamente demarcado pela
puberdade”, que Campos (1975, p. 17) define como “mudanças fisiológicas”.
É nessa fase que surgem as principais mudanças no comportamento do
jovem. O adolescente começa a afastar-se do convívio familiar e a procurar seus
pares, através de critérios baseados em sua própria percepção ou atratividade. Ele necessita interagir com semelhantes em idade, pensamentos e
indagações.
Muitos pais, segundo Clerget (2004), observam o comportamento dos filhos
e conseguem registrar cada detalhe de seus movimentos. Algumas vezes, não
compreendem o que se passa com seus filhos adolescentes, e agem com críticas e
palavras grosseiras que servem apenas para distanciar o adolescente do convívio
familiar. A Escola, por sua vez, deixa a desejar quando o assunto é educação
sexual (Altmann, 2003). A partir daí começam a se fortalecer os laços do grupo
para os adolescentes, que encontram neles apoio e “compreensão”.
As conversas entre amigos são mais fáceis de serem iniciadas pelo tom
descontraído e, muitas vezes, pela “vulgarização” das mesmas (Romero, et al.,
2007, p.7). Os grupos são compostos por outros adolescentes que vivem o mesmo
dilema em suas casas e que também procuram pares semelhantes.
Uma das principais lutas enfrentadas na adolescência é “como lidar
apropriadamente e expressar seus sentimentos sexuais” (Shaffer, 2005).
Com os pais, na maioria das vezes, não encontra brecha para questionar, ou
pensa que estes estão despreparados para dialogar sobre o assunto (Amaral &
Fonseca, 2006). No colégio, o assunto nem sempre é abordado de forma
satisfatória pelos professores. As igrejas conservam ainda um tabu
significativo sobre o tema. Estas instituições, que deveriam ser um referencial
no contexto da formação de impressões do adolescente sobre tudo e sobre seu
comportamento sexual, se limitam a posições extremadas em conceitos arcaicos
que nada mais fazem a não ser separar os incautos adolescentes de suas raízes.
Não se pode negar a força e influência que os pais têm sobre seus filhos, mas também não se deve deixar de evidenciar que um número significante de pais se
prende demais às obrigações profissionais e se desprende da responsabilidade
de sofrer com a prole, seus conflitos e suas frustrações.
Thorne e Whitaker e Miller (citados por Shaffer, 2005) comentam a
negligência de pais norte-americanos que deixam seus filhos aprenderem sozinhos
sobre a sexualidade. Os autores descobriram que eles sempre encontram uma forma
de não falar ou de não responder aos filhos quando estes questionam sobre
assuntos relativos à sexualidade. As crianças são forçadas a descobrirem
sozinhas as respostas sobre suas dúvidas de cunho sexual.
Se os filhos são “abandonados” por seus pais na busca por respostas sobre
sexualidade, os pares tornam-se uma acessível e influente fonte de pesquisa e
informação. Vários estudos têm enfatizado a influência que
os pares exercem no comportamento sexual de adolescentes (Borges, 2007).
Para Myers (2006), esta influência é fator relevante nas informações
absorvidas pelos jovens uma vez que “a influência parental diminui” em relação à influência de terceiros.
O grupo exerce um poder atrativo sobre o adolescente, e este tende a
sentir-se mal quando rejeitado pelos pares, que representam o campo de
pesquisa, de atividades, de descobertas, de laser, de ajuda, de desabafo e de
socialização para o adolescente. Sua influência dá-se “por meio de um código de
condutas e valores não identificados” (Borges, Latorre, e Schor, 2007, p. 9).
Sem o grupo o jovem fecha-se no seu mundo e isola-se com seus sentimentos e
suas aspirações.
A revista Psicologia Brasil, em artigo assinado por Tissot (2007), destaca
a importância dos pares nos relacionamentos do adolescente e na construção da
auto-estima. O artigo eleva a beleza física e a aceitação dos pares como um
fator importante na formação da auto-estima do adolescente. Como o adolescente
passa, nesta fase da vida, a desenvolver laços com pares, estes exercem
importante papel para aquilo que considera importante no seu
bem-estar.
A autora, além de enfatizar a importância dos pares, destaca a
independência inevitável que acontece no adolescente com relação aos pais nesta
fase da vida. É nesta fase de independência que os pais deixam de exercer o
controle visual sobre seus filhos e são forçados a entregá-los sozinhos ao
mundo do desconhecido. Alguns adolescentes sempre voltam para seus pais quando
precisam de algum esclarecimento, mas outros, principalmente aqueles que não
encontram uma base para diálogo na família, passam a ver nos amigos uma
boa opção de apoio. Eles, que estão vivendo o desabrochar da sexualidade,
encontram no relacionamento grupal mais atrativos do que aquilo que os pais
podem oferecer. Por outro lado, muitos adolescentes não procuram os pais para
um diálogo esclarecedor sobre sexualidade, por medo de sofrer represálias (Sousa,
Fernandes e Barroso, 2006).
Segundo Aberastury e Knobel (1981), os adolescentes querem dos pais algo
que eles se recusam a ceder: liberdade.
O grupo oferece liberdade de expressão, não se preocupa como os horários
dos adolescentes, e dá a estes o direito de experimentar quaisquer coisas que
desejem.
Para Santo Agostinho (354-430), o adolescente sozinho tem menos tendência
às práticas errôneas do que acompanhado dos colegas.
A adolescência trás maior suscetibilidade à opinião dos pares, inclusive
aquelas que apoiam más condutas (Shaffer, 2005). Neste contexto, é provável que
os adolescentes tenham uma opinião sexual formada pela intervenção do grupo, e
que este influencie consideravelmente o comportamento sexual dos jovens, como
influencia muitas outras áreas de suas personalidades.
Os jovens parecem necessitar da presença de outros
adolescentes para se sentirem humanos ou para compararem-se.
Em pesquisa realizada na zona leste de São Paulo com 383 adolescentes com
idades entre 15 e 19 anos, em 2002, constatou-se que 45,6% entre os homens e
41,4% entre as mulheres, esclareciam suas dúvidas sobre sexualidade
principalmente com amigos (Borges, Nichiata e Schor, 2006,).
O grupo tem poder de revelar ao adolescente um outro mundo (Shaffer,
2005). Um mundo de respostas (certas ou erradas) que o jovem sempre quis
encontrar e que os pais não foram capazes de oferecer. Por isso, não raro, o
grupo é, aparentemente, mais considerado do que a família.
Tiba (1986, p. 58) acredita que na adolescência a importância da
família e da escola não são tão
relevantes quanto foram na infância. O autor afirma que a “turma” tem um poder
muito maior para o adolescente que qualquer outra instituição.
A
considerável diferença entre o adolescente em casa e entre os amigos está na
igualdade de ideais e na facilidade de aceitação que estes exercem sobre os
jovens. O grupo não apenas tem os mesmos padrões existenciais do adolescente,
como consegue de uma forma mais convincente exercer influência sobre ele.
E, quando o assunto é sexualidade, o
grupo não precisa sentar o jovem numa cadeira e fazer um sermão de meia hora
sem querer ser ouvido. Ele é procurado pelo adolescente ou apenas observado por
este. Uma boa parte do aprendizado de uma pessoa pode ser adquirida simplesmente
pela observação do comportamento de outra (Michener, Delamater e Myers, 2005).
Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160 Contato: (83) 8745 4396.
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