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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O que motivaria um garoto de 13 anos a matar os pais

A mídia tem noticiado nos últimos dias o caso do menino Marcelo, um garoto de 13 anos que, supostamente, teria assassinado os pais e, posteriormente, cometido suicídio. Mesmo sem ter certeza de que as suspeitam possam realmente ser confirmadas, muitos indagam que motivação levaria um jovem, tão "meigo", a cometer tal barbárie. 

Não se pode afirmar (ao menos até agora) que tenha sido o filho o responsável pela tragédia da família. Tudo que se fala sobre isto, até mesmo neste artigo, gira em torno de conjecturas. No entanto, este não seria o primeiro caso de assassinatos cometidos por adolescentes. E, em todos os casos, as pessoas procuram uma explicação. 

Seria possível utilizar vários vieses para tentar teorizar sobre a motivação dos crimes. Desde uma explicação sociológica voltada para a banalização da violência até a impregnação dos comandos virtuais, inculcados nas mentes de todos os seguidores desses entretenimentos, principalmente dos mais incautos. É possível construir explicações de várias formas, e cada um escolha a que melhor lhe convencer.

Seria possível, por exemplo, refletir sobre o comportamento do "suposto" assassino mirim para se formar algumas interrogações. 

Porque ele não se matou imediatamente após ter cometido o assassinato dos pais? Por que não fugiu para um lugar distante, como alguém dissera que ele gostaria de fazer? Por que voltou ao local do crime, se já sabia o que existia lá? 

Será que estaria havendo um exagero ou uma tentativa de patologizar o crime, se fosse falado em uma crise psicótica, talvez desencadeada por excesso de comandos recebidos de "games" violentos em uma mente predisposta à loucura, atrelada à forma violenta como tudo tem sido tratado nos atuais dias?

Falando de "games eletrônicos", deve-se entender que muitos filhos estão à mercê dos personagens destes jogos. Eles sabem pronunciar seus nomes, conhecem seus desejos, gostam dos seus prazeres [muitas vezes violentos e bizarros] e têm muito mais intimidade com eles do que com os próprios pais. Algumas vezes, os "heróis da agressividade" ensinam mais às crianças como se comportarem e como resolverem seus problemas, do que a família nuclear, que deveria ter mais tempo para observar seus filhos.

É importante saber que o rapazinho educado e sensível que brinca no pátio da escola, nem sempre representa a verdadeira identidade do menino que sofre uma guerra psicótica dentro de sua mente. Desconhecer o laço de família e tratar pais como criaturas que devem ser eliminadas, não deve configurar resultado de uma mente sã. E como ninguém vive o tempo todo em um surto de loucura, quando o "transe" passou e o provável garotinho voltou ao "normal", reconhecendo que seus pais haviam sido assassinado, não por ele, mas por sua abrupta loucura, entende que se matar poderia ser a pena merecida.

Para onde foram os desejos de ser matador? Quem lhes tirou a ânsia de ir embora morar sozinho? Tudo parece ter se esvaído com a chegada da realidade. 

Este pequeno texto não pretende ser uma explicação incontestável de um evento trágico. No entanto, como muitos levantam suas teorias para rotular uma criança de assassina cruel, deverá estar livre o caminho para conjecturas que coloquem as crianças de volta à infância dos carinhos e aos afagos familiares, sem armas, sem personagens malévolos e sem a "lavagem" mental dos jogos eletrônicos.

Pensar assim poderá transformar o assassino em vítima. Sim, vítima da violência, de um mundo onde o virtual tem se tornado mais importante que a realidade. E que, numa mente frágil, a mistura dos dois torna-se um mundo sem divisas. E se os pais, não os que morreram, mas os que ficaram, forem mais cuidadosos, talvez seus filhos deixem de querer ser "monstros", para serem como eles.

Não que a culpa da loucura, caso tenha ocorrido, esteja sobre os ombros dos pais. Mas, a responsabilidade de entender as intenções de uma criança tem que repousar sobre aqueles que com ela convivem. É claro que cabe a cada pai ouvir os sonhos de seus filhos, saber suas aspirações, brincadeiras, desenhos favoritos, brinquedos mais usados, etc. 

Dificilmente,  uma criança que é fã das armas, que joga com personagens agressivos e que "curte" conversar sobre violência, não precisará de cuidados e observações especiais, principalmente por parte dos pais. Isto não se aplica à criança que brinca com uma arma de plástico, mas a que faz dela sua fonte de inspiração para a maior parte de suas atividades prazerosas. Seria exagero pensar que só porque uma criança pede para o pai comprar uma arma de brinquedo, devesse ser mais observada. No entanto, quando se trata de criança, suas preferências principais podem ser indicativas de seus futuros comportamentos. Uma arma de brinquedo pode não trazer problema algum, mas quando ela é associada a um comportamento agressivo [não me refiro aqui ao menino suspeito de assassinato] e a conversas sobre matar alguém, deve ser motivo de observação. 

E sobre a motivação? Ah! A motivação do crime? Talvez nunca tenham existido, nem motivação nem crime. E se existiu, foi apenas por alguns momentos onde o controle da realidade caiu nas mãos dos fantasmas virtuais que dominam muitas crianças. Nesta hora, o pai tornou-se um vilão, a mãe foi a sua cúmplice, as tias somaram pontos e o herói da visão deixou de existir, antes que fosse premiado.

Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160.  Contato: (83) 8745 4396.

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