Pesquise um tema aqui

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pai omisso, filhos sem referencial!

A figura do pai tem muita importância na construção da estrutura psicológica dos filhos. Sem sua presença cotidianamente na vida dos filhos, muitas lacunas poderão ser abertas ou ficar sem o devido preenchimento. O pai não pode encarar seu papel apenas como um provedor de necessidades materiais dos filhos, pois ele transcende todas as aspirações que uma criança possa apresentar. Lugar de pai, também (e principalmente), é ao lado dos filhos. Quando isto não ocorre, eles poderão se espelhar em muitas outras figuras (escolhidas sem qualquer critério) para assumir o modelo de pai.

Muitos pais acreditam que devem se aproximar dos filhos somente quando estes cometem algo digno de punição. Chegam, muitas vezes, com estupidez e agressividade querendo mostrar para as crianças que é "mandão", o "tal", "aquele que pode corrigir os seus erros". No entanto, esquecem que deveriam ter estado perto, quando eles precisavam de direcionamento. Agredir os filhos para tentar consertar uma falta cometida é algo comum nas famílias, mas poucos percebem o quanto isto poderá levar os jovens a sentimentos de desprezo, raiva e desamor pelos pais. 

Sob o pretexto de trabalhar muito, de chegar em casa cansado e sem paciência, alguns pais colocam sobre a mãe o papel de "acalmar" os filhos para não os inquietarem. Assim, a figura paterna acaba sendo vista, por muitos filhos, como uma imagem intocável, impenetrável e inacessível. Muitos só são procurados pelos pais quando precisam receber uma bronca. E tem pai que acredita que os filhos já nascem com a capacidade de saber o que é certo e errado, sem que sejam ensinados. Fazer uma reunião diária com a esposa para conversar sobre os comportamentos dos filhos é uma dica muito valiosa.

O pai omisso coloca sobre a figura materna a responsabilidade de educar os filhos. Ele crê que sua missão restringe-se à provisão enquanto à mãe cabe apoiar, conversar e resolver os pequenos problemas. Seria uma divisão de tarefa aparentemente justa, não fosse pelos males que a distância paterna pode proporcionar. Entenda-se por omissão, também, a falta de punição, disciplina e cuidado, na hora certa.

Cada filho tem necessidades emocionais, que devem ser supridas por mães e pais. Estar presente na vida do filho não significa apenas está perto dele, mas ligado às necessidades afetivas oriundas do seu desenvolvimento. Perto do filho estão os amigos, o professor, o vizinho, o pastor, o padre, etc. Mas o pai deve ser o único a romper a barreira física da proximidade. Ele pode penetrar no coração do filho, conhecer suas carências e apoiar suas decisões. De todos os abraços que os filhos recebem, apenas o do pai pode tocar sua alma. De todas as conversas, apenas o diálogo paterno poderá edificar, sem deixar sequelas. Tudo que é posto no lugar do pai, no desenvolvimento emocional dos filhos, serve apenas como um remendo, que tenta cobrir uma falha.

Não tem autoridade (reconhecida pelos filhos), para corrigir e disciplinar, o pai omisso, que deixa para os outros a sua missão. Mesmo quando obedece ou se curva diante de um grito agressivo proferido pelo pai, o filho poderá guardar na alma a angústia de ser punido por alguém tão ausente. 

Os pais omissos são, muitas vezes, medrosos. Têm medo de estarem próximos dos filhos. Temem não serem capazes de se tornarem seus amigos. Receiam perder o "poder" sobre eles. Tais pais devem ser lembrados que o amor dedicado aos filhos, rotineiramente, constrói uma fortaleza de respeito e afinidade. Quando pais e filhos se tornam "cúmplices", o mais velho sempre será referência para as decisões do neófito.

Os pais omissos poderão perder, no futuro, a companhia dos filhos, que crescem sem tê-los por perto. É mais provável que o filho adulto prefira um final de semana na casa dos amigos (que conversam, brincam e se divertem com ele) a estarem com um pai sisudo e radical que, apesar de provedor, sempre foi desprovido de atenção, aconselhamento, afeto e presença. Alguns, ainda por questões devocionais, educacionais e culturais, assistem estes pais para não serem julgados pela sociedade. Mas tal assistência é tão pobre e mecânica que faz o pai sentir-se totalmente desprezado, pela falta de afeto.

Pais omissos não dão aos filhos um modelo de vida estruturada, que possam seguir. Eles ficam sem referencial e acabam tomando por exemplo os estranhos, ou ficam sem modelo algum. Podem crescer perdidos, duvidosos, indefesos e desajustados.

Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160    Contato: (83) 8745 4396.

14 comentários:

  1. Excelente artigo. Parabéns mais uma vez!

    ResponderExcluir
  2. exatamente o meu caso: perdida, duvidosa e indefesa. Pais ausentes.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Que pena que meu pai não quis ser amigo dos filhos. Hoje ele pede nossa ajuda pra voltar com a mamãe, mas não me sensibiliza. Nunca bateu, nem nunca abraçou. O corpo físico sempre presente, mas a alma distante. Você colhe aquilo que planta, e se você planta "nada", "nada" você colherá. Sorte dele que sou diferente , assim como eu estive do lado do vovô jogando xadrez às tardes antes dele falecer, quem sabe eu faça o mesmo, o tempo dirá. Em contra-partida, se preciso for trocarei até as fraldas sujas da mamãe com muito carinho e gratidão.

    ResponderExcluir
  5. Excelente texto!! Parabéns por explicar tão bem essa questão.

    ResponderExcluir
  6. Sou um pai Ausente, estou tentando a mais de 2 anos e meio arrumar jeito de ter atenção e de dar atenção aos meus filhos. Um dos meus filhos esta comigo a 2 anos que é uma adolescente de 17 anos hoje, ainda não consigo ter com ela amizade de pai e filho. Minha esposa atual diz o seguinte: A filha é tua e voce tem que resolver, eu ja fiz o que tinha que fazer. A mais de 1 ano e meio não consigo arrumar uma solução para este problema. Agora com a esposa irritada com adolescente que não é filha dela, já pensei em até me separar parcialmente da mulher e viver com a milha filha em casa separada, já que minha esposa não aguenta mais. Mas isso não vejo como uma solução, mas se ela continuar dizer que não aguenta mais a presença de minha filha, terei que fazer isso. Mas o que eu posso fazer para ter minha filha comigo como amiga e pai e meu filho que esta mais longe para ele ver a mim como pai. Quem puder ajudar agradeço! Serginhoservices@gmail.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá. Às vezes, é preciso apenas um bom diálogo. Tente conversar mais com sua filha e com sua esposa. É preciso saber qual a razão dos desentendimentos. Se aproximar dela sem crítica e com atitude de um pai que quer acertar, fará ela perceber suas intenções. Se sentir dificuldade pode procurar um psicólogo familiar. Sugiro que você leia meu livro: ADOLESCENTE REBELDE - COMO LIDAR? este livro poderá ser de muita valia para você. Abraço.

      Excluir
  7. Parece que descreveu o meu pai. Eu sempre achei que devia perdoá-lo, e o fiz. Mas a questão é que não sinto a falta dele, não sinto afeto por ele, e não tenho assunto quando o visito. Convivi com ele por 26 anos. Quando o meu noivo foi a ele pedir pata se casar comigo, ele disse apenas: "Ela é uma pessoa difícil e gastadeira" (embora quem pagava as minhas contas fosse eu mesma. Ou seja, depois de 26 anos de convivência... Ele não tinha nada de bom para falar sobre mim. Sem falar que sempre me puniu severamente, e suas respostas à qualquer solicitação minha, era "não". Soube que ele teve sintomas de infarto ontem... Então me sobreveio a pergunta: "Como ter medo de perder o que nunca teve?". Triste, porém sincero.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente é um triste relato. Desejo que você aprenda a tirar disso algum proveito e a transformar sua história triste em uma grande experiência de vida. Sugiro que procure ser melhor do que o seu pai foi. Se há algo que ele possa ter ensinado, é que nunca se deve tratar um filho como ele lhe tratou. abraço.

      Excluir
  8. E como a mãe faz pra criar um filho de pai omisso? Se for o caso, não sei como funciona, marco consulta pra ter essa resposta.

    ResponderExcluir
  9. A consulta para você pode ajudar apenas você. Seria interessante que o "pai omisso" se dispusesse a aprender a importância de ser presente. Mas, como não se pode mudar o outro, sugiro que você faça a sua parte. Mesmo que o pai seja omisso, você deve tornar-se cada vez mais presente, para o bem do seu filho.

    ResponderExcluir