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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Perdoar para continuar amando.

Maicom e Sirla se amavam muito. Casados, viviam uma linda história de amor. Ele trabalhava em uma fábrica e ela ficava em casa cuidando dos afazeres domésticos. O casal tinha uma amiga que sentia uma forte atração por Maicom. Sempre o tentava e perturbava. Sirla nunca soube disso, porque o marido a queria poupar. Catrina, a amiga apaixonada por Maicom, sempre estava na casa deles e era muito bem recebida por Sirla, que a considerava como uma irmã. O casal costumava convidá-la para assistir filmes. Ficavam até tarde deitados no tapete da sala vendo TV. Algumas vezes, os três chegavam a adormecer e passavam a noite sem perceber. Sirla, sempre ingênua, ria do acontecido. Mas, Maicom temia que um dia sua esposa soubesse que a amiga o chamava constantemente para sair. 

Certo dia, porém, Sirla precisou viajar para visitar os pais. Como não tinha ninguém mais confiável do que a amiga, convidou-a para fazer a comida do esposo durante os três dias que  ficaria longe. Em princípio, Maicom não gostou da ideia, mas para não demonstrar estranheza alguma sobre as intenções da amiga, calou-se. 

No dia seguinte, ao chegar do trabalho, cansado, faminto e sentindo falta da esposa, deparou-se com Catrina, vestida sensualmente e cheia de investidas para o rapaz. Ele, porém, resistiu. No segundo dia a tentação foi a mesma. Mas, ele não cedeu. No terceiro dia, entretanto, logo pela manhã, Sirla ligou comunicando que precisaria ficar com os pais por mais dois dias. Sem querer contrariar a esposa, Maicom aceitou. Quando chegou em casa, Catrina estava, como sempre, vestida de forma provocante, mas não fez qualquer insinuação. Apenas o convidou para assistir a um filme, depois da janta. 

Tratava-se de um filme com cenas românticas de sexo. E, desta vez, o rapaz não conseguiu resistir. Os dois se relacionaram sexualmente, satisfazendo o grande desejo da amiga sedutora. Entretanto, após o ocorrido, Maicom sentiu forte arrependimento. Pediu para a Catrina ir embora. Passou a noite sem dormir. Nos dois dias que se seguiram, não veio comer em casa. Não conseguia parar de pensar no fato de ter traído a esposa. Todos, no trabalho, perceberam sua agitação. Alguns colegas o viram cabisbaixo e choroso. 

No final dos dois dias, Sirla chega. Percebe que o marido está triste e começa a investigar o motivo. Pensa em se culpar, por acreditar que ele ficou assim por sentir sua falta. Mas, mesmo depois de muito diálogo, percebe que ele continua triste e descontrolado. 

Finalmente Maicom resolve abrir o coração e contar tudo para a esposa. Ele diz que a ama, que não consegue viver sem ela, mas que foi fortemente tentado e não conseguiu resistir. Chora e implora o perdão da esposa, que sem dizer uma única palavra, com o rosto banhado por lágrimas quentes, arruma suas malas e volta para a casa dos pais.

Esta história é fictícia, mas pode ser parecida com muitas, que acontecem no dia a dia das pessoas.

Quando se deparam com uma situação dessas, as pessoas têm, primeiramente, as emoções ativadas. Sentimentos desagradáveis, como: raiva, tristeza, desgosto e decepção, passam a impulsionar comportamentos agressivos, distanciamento, e pensamentos que colocam o outro como um vilão imperdoável e a vítima como alguém frágil e indefesa. 

Qualquer tomada de decisão neste momento poderá ser motivada pelos sentimentos e pensamentos desagradáveis. Portanto, a coisa mais funcional a fazer é dar tempo, para que as emoções esfriem e a razão comece a assumir a administração das ideias.

Por tomar decisões em momentos de extrema fluência das emoções, muitas pessoas acabaram acreditando que não deveriam mais se relacionar, que fracassaram na vida e que são indignas de serem amadas ou queridas. 

Ao contrário das emoções, a razão pesa as consequências dos atos. Uma dica importante, que poderia ser dada à personagem Sirla, seria estimar as consequências das decisões que viesse a tomar. Isto poderia ser feito com perguntas direcionadas a si própria, como: se me separar, o que vai acontecer com o casamento que tanto planejei e que construí com tanta dedicação? O que está em jogo neste momento é o fato de eu ter sido traída ou a estrutura do meu lar? Direta ou indiretamente, teria eu tido alguma parcela de culpa neste episódio? Se eu perdoar, terei chance de reconstruir minha vida com o homem que amo? Sofrerei mais com ele ou sem ele?

Estas e outras perguntas poderão ajudar a esposa a refletir sobre que decisão tomar. Evidentemente tais questionamentos surtirão maior reflexão se forem desprovidos de sentimentos de ódio ou vingança e da influência de terceiros. 

A forma como a traição ocorre, também, oferece um peso maior, na hora do perdão. Quando a pessoa planeja, traça um plano, premedita e dá um jeito de afastar o outro da ocasião da traição, pode sugerir uma boa característica de alguém que, realmente, deseja enganar. Mesmo isto, deve ser ponderado com muita razão e pouca emoção. Mas, certamente, este "traidor" será visto com mais repúdio do que quem, tão somente, se deixa levar por um momento de tentação imprevisto. 

Independente da posição que a esposa tomar, deve compreender que o perdão dará oportunidade de manter o relacionamento, enquanto a separação poderá aguçar ódio, trauma e maior sofrimento. Perdão, também, não significa uma preparação para a vingança. Alguns cônjuges dizem que perdoam e permanecem casados, mas apenas para ficar "cutucando" e humilhando constantemente o outro, relembrando aquele momento em que falhou. 

Para perdoar é necessário, antes de qualquer coisa, ter a capacidade de se colocar no lugar do outro. Se não entender suas fraquezas, suas motivações e seus sentimentos, não conseguirá se dispor a perdoar.

Não há outra coisa capaz de "unir novamente" um casal, depois de uma traição, que não seja o perdão. Perdoar, neste caso, significa querer lutar contra a destruição do casamento. É mostrar que tem vontade de dar mais uma chance.

Perdoar não é ser conivente com uma sequência de erros do outro, em nome do amor. Mas, dar oportunidade a alguém que se mostre verdadeiramente arrependido, para corrigir uma falha, no percurso de sua existência. 

Perdoar nem é sinônimo de fraqueza, nem de covardia, mas uma virtude dos nobres, dos sábios e dos que conseguem entender a fragilidade humana.

Sirla teria todo o direito de ir embora e não querer mais ficar com o esposo. A sociedade e a própria Lei a apoiariam. Entretanto, quando o assunto envolve um matrimônio construído em amor, há muito mais coisas, que nem a sociedade nem a Lei seriam capazes de entender. 

(Leia os comentários que as pessoas fizeram sobre a história de Maicom e Sirla: https://www.facebook.com/joacil.luis/posts/570431323045640?notif_t=like )



Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160. Contato: (83) 8745 4396.  



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