Pesquise um tema aqui

segunda-feira, 23 de abril de 2012

C O N V I V E R



Aurélio traduz conviver por viver em comum com outrem em intimidade, em familiaridade. Convive-se quando existe troca e exposição de pensamentos, comportamentos e aprendizagens com pessoas que vivem próximas ou que estão intimamente ligadas. A convivência pode ser taxada de boa – quando as aspirações são aceitas por todos do convívio, ou má – quando num grupo de duas ou mais pessoas existe discordância entre pensamentos e atitudes.

O grupo familiar é o mais  comum exemplo de convívio. Nele, as pessoas estão ligadas por fortes laços de parentesco que são reforçados por uma tradição cultural colocando cada membro dentro da devida subserviência. Numa família o irmão mais novo sabe que “deve respeito” ao irmão mais velho. Este reconhece sua obediência aos pais, e, se na casa existir um avô, será reverenciado. Para que a convivência seja boa, um fator importante a ser observado é respeitar a individualidade alheia.

Cada membro da família, mesmo descendendo de uma única herança genética, possui uma individualidade protegida a todo custo contra qualquer invasão. Conviver bem, é aceitar a individualidade do próximo.  E quando isto é esquecido, chegam os conflitos que ferem e denigrem a tão bela arte de conviver. É possível, por exemplo, que uma criança permita seu irmão mais velho comer o primeiro pedaço de bolo na hora do lanche. Porém, é pouco provável que este mesmo irmão desligue o computador do pequenino quando estiver navegando na internet, sem que isto cause um conflito. Falar de individualidade é dizer que cada ser humano, independente de idade, possui um mundo só seu, rigorosamente particular, intransponível e acessível apenas para quem for permitido. Não se entra neste solo íntimo sem convite. Nem os pais podem penetrar na individualidade de seus filhos pela força ou pelo autoritarismo. Essa tentativa pode levar o filho a utilizar-se da mentira apenas para impedir que seus pais entrem no seu mundo sem permissão. E é por causa disto, que existem pais em guerra diária com seus filhos e famílias que são verdadeiros campos de batalha. Há pais que dizem como os filhos devem pensar sem antes saber o que os filhos pensam. Querem que os filhos os ouçam, mas, não permitem que falem. Querem que os filhos aprendam, mas não perdem tempo ensinando. Ditam as regras, mas não dizem o porquê delas existirem. E assim, muitos pais viram senhores e muitos filhos comportam-se como servos. Servos, porém, não convidam seus senhores para falarem de si. Não permitem que seus senhores saibam de seus conflitos nem de suas aspirações. Servos têm apenas a preocupação de servir para não ser disciplinados ou não ser açoitados pelos seus senhores. Alguns filhos apenas “servem” aos seus pais. Mas entre um escravo e seu senhor existe um abismo profundo que separa dois mundos e que torna impossível a boa convivência. Há pessoas que acreditam que convivem bem com seus semelhantes pelo fato de não existir guerras visíveis ou gritarias entre eles. Mas, a convivência perfeita pode está longe do simples silêncio causado pelo efeito da imposição. A convivência boa é harmoniosa. É recheada de renuncia voluntária e de diálogo. É desprovida de angústias e de segredos. Nesta forma de conviver cada um vive seu mundo e cada um respeita o mundo do outro e, quando há necessidade, um convida o outro para interagir no seu mundo abrindo sua intimidade e confidenciando seus mais preciosos segredos. É assim que nascem os amigos, as boas famílias e os eternos enamorados casais.

Outro princípio importante para uma convivência sadia, é a compreensão. Quando esta chega num relacionamento, abre as portas para o acordo e os dois lados acabam aceitando ou compreendendo os motivos que levaram a pessoa a tomar determinada atitude. Pois as atitudes humanas, sempre possuem uma prévia de acontecimentos que se acumularam na mente criando um subjetivismo em cada indivíduo. A compreensão é a análise do arcabouço psicológico da pessoa com a qual se convive. Compreender é, principalmente, vivenciar a experiência do outro como se fosse ele próprio. É o pai que volta no tempo para colocar-se no lugar do filho de 12 anos que tem dificuldade em lidar com situações formais. É o amigo rico que desce do carro e caminha quilômetros para chegar à escola a fim de compreender porque o colega cochila na aula de matemática. É o patrão que percorre o bairro pobre onde mora o funcionário tentando descobrir o motivo de sua improdutividade. É o marido que entra na vida da esposa e viaja no seu passado para conhecer seus traumas e obstáculos a fim saber os motivos de seus atuais comportamentos.

Quando numa convivência existe compreensão, o diálogo entra como um bálsamo que suaviza o atrito. A compreensão leva o professor a entender melhor seus alunos. Até mesmo aqueles que parecem mais difíceis. Faz as famílias se unirem mais e ensina as pessoas a estender as mãos, invés de virar as costas aos seus semelhantes. A compreensão surge quando se entende que sua própria vida necessita ser compreendida pelos outros. Os seus gostos, seus sonhos, suas vocações, tudo necessita de compreensão para conviver harmoniosamente entre os semelhantes. E, quando se busca a compreensão e não se consegue, um terceiro facilitador para a convivência entra em cena. Trata-se da aceitação. Para conviver bem é imprescindível desenvolver a capacidade de aceitar a diferença que existe no outro. Num convívio, existem coisas que são mutáveis, que podem ser moldadas, aperfeiçoadas e compreendidas, mas, algumas são fixas não podem ser alteradas e, às vezes, nem compreendidas. Neste caso, a solução para não criar um conflito na convivência é aceitar o outro como suas particularidades. Uma moça que se casa com um rapaz de pouca instrução escolar pode convencê-lo a estudar e ajudá-lo a mudar seu grau de instrução. Ela pode auxiliá-lo nas tarefas, motivá-lo e fazê-lo uma pessoa diferente no que diz respeito ao grau de instrução. Esta mesma moça pode convencer o marido a mudar de religião, pode mudar seu jeito de vestir e até convencê-lo a torcer por outro time de futebol. Todavia, se este rapaz possui um defeito físico que o impossibilita de desempenhar determinadas funções – um problema auditivo crônico, por exemplo, e isto faz com que a esposa tenha sempre que repetir a mesma coisa quando fala em tom mais baixo, este é um problema que ela não pode mudar, apenas, compreender e aceitar. Aceitar que ele não pode ouvir com perfeição, e assim, não precisará se irritar ou tratá-lo com ignorância quando pedir que repita o que disse. Este fato é comum quando os casais envelhecem e algumas funções do corpo vão desaparecendo. O esposo enxerga menos, a mulher fica mais nervosa, um precisa de uma bengala pra caminhar, outro dorme menos e vaga pela casa durante a noite. Estes problemas, quando não são compreendidos e aceitos, geram conflitos na convivência e afetam a harmonia de qualquer grupo.

Assim concluímos afirmando que conviver é mais que está junto e mais que viver debaixo do mesmo teto. Conviver é respeitar a individualidade e não invadir o mundo particular do outro. É compreender os fatos que formaram cada pessoa e investigar os porquês de cada comportamento. É aceitar aquilo que existe no outro e que não pode ser modificado. É saber que o outro é outro, e, que você é você. Um filho nunca será seu próprio pai; um pai nunca será seu próprio filho. Um marido nunca será sua esposa nem o inverso acontecerá jamais. Se todos entenderem isto, conviver será mais agradável e muito mais duradouro.

Joacil Luis de Oliveira
Psicólogo CRP 13 6160
9962 5283 8745 4396

Nenhum comentário:

Postar um comentário