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segunda-feira, 26 de maio de 2014

O tempo não cura tudo. Às vezes, pode até piorar!

Afirmar que o tempo pode curar tudo é tão comum que as pessoas nem se dão conta de que este famoso adágio pode não ser tão verdadeiro quanto se acredita. Vale lembrar que uma das características do tempo, como "remédio", é fazer esquecer. Mas, isto não significa que a cura chegou. Esquecer um problema, mesmo que isto faça desaparecer aparentemente os sintomas da lembrança, não significa curar. Pode representar apenas que a "dor" foi ocultada ou, talvez, direcionada para regiões consideradas inconscientes.

O tempo não pode curar uma mágoa, pois isto é tarefa do perdão. Se não houver perdão, a mágoa poderá se transformar em dor física sem causa aparente. Poderá reaparecer em forma de doença cardíaca, mental ou psicológica. É possível, inclusive, que o tempo piore, fazendo com que a pessoa esqueça os detalhes do sofrimento e impeça que se disponha a resolver o conflito.

O tempo não pode curar um trauma, pois isto é tarefa de uma consciência bem trabalhada com o propósito de fazer a pessoa perceber os acontecimentos de acordo com a data em que eles realmente ocorreram. O tempo pode até ocultar, mas é a lembrança consciente a principal responsável pela cura e ressignificação. 


O tempo não cura a dor do filho que foi abandonado, maltratado e machucado por pais irresponsáveis. Isto é papel da resiliência, da escolha de continuar vivendo e da disposição de encontrar novos motivos para ser feliz. Neste caso, o tempo poderá atrapalhar muito, pois quanto mais passa, mais enraizará a dor daqueles que não aprenderam a encontrar em outras "coisas" os motivos da felicidade. 


Seria até bom se o tempo realmente pudesse curar, mas ao que parece, a cura não vem com o passar do tempo. Não importam os anos, a dor pode aumentar ou se ocultar, sem nunca deixar de machucar. 


Então, qual a função do tempo na cura das feridas? Algumas vezes, nenhuma. Mas, pode ser que ele seja um grande parceiro, quando associado aos verdadeiros mecanismos de cura. Pode ajudar a cicatrizar, mas somente se for usado como coadjuvante do perdão, da ressignificação e da vontade de mudar.


Dizer que o tempo cura tudo é mais fácil do que acreditar que a responsabilidade não é dele, mas de cada pessoa. Principalmente, em se tratando da cura da alma, a disposição de ficar "são" vale muito mais que os infinitos anos de lembrança, recordação ou esquecimento. Desta forma, o tempo não tem qualquer poder sobre a memória. Mas, esta poderá deixar de machucar com suas reminiscências, quando houver um cuidado e uma atitude de reconstrução. 


Portanto, não é o tempo, mas o que se faz por meio dele, que pode cicatrizar as feridas da alma, as lembranças da mente e as mágoas do coração.


Então, não se deve deixar o tempo passar sem que se peça perdão, sem que se libere o perdão, sem que se corra atrás do filho ferido, da esposa machucada e dos amigos que foram magoados. Não se deve permitir que tempo leve consigo, para o futuro, um problema que deve ser resolvido agora. 



Joacil Luis - Psicólgo - CRP 13/6160.  Contato: (83) 8745 4396. 

Um comentário:

  1. Fantástica essa visão do tempo, não mais como responsável direto pela cura das dores da alma, mas sim como coadjuvante para a aplicação dos verdadeiros caminhos da cura.

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