Fabiano era um jovem estudante dedicado com uma ótima reputação no seu
colégio. Todos os seus colegas o admiravam e reverenciavam suas colocações
durante as aulas. No início do seu segundo ano naquele colégio, foi convidado
para candidatar-se a presidente do grêmio estudantil da instituição. Além dele,
outros dois rapazes também se apresentaram como candidatos. Os três aspirantes
ao cargo de presidente tinham 30 dias para apresentar propostas e conquistar os
votos dos colegas. Na primeira semana de campanha, no entanto, um dos
opositores de Fabiano espalhou panfletos por todo colégio denegrindo sua imagem
e insultando o aluno com palavras de baixo nível. Quando leu o panfleto, o
rapaz encolerizou-se muito, e, indignado, procurou imediatamente a direção do
colégio e retirou seu nome do rol de candidatos ao grêmio. Sabendo de sua renúncia,
os outros candidatos procuraram Fabiano separadamente buscando apoio para as
eleições.
Este, se desculpando, disse apenas que não estava acostumado com
aquele tipo de competição, mas que ficaria torcendo pelos colegas. Os outros
candidatos eram: Patrício, da turma da tarde, e Cassiano, da noite. Alguns dias
depois da saída do primeiro candidato, a equipe liderada por Cassiano discursou
no auditório do colégio e pronunciou palavras agravantes contra a equipe de
Patrício, que, ao tomar conhecimento, e, possuído de cólera, invadiu o
estacionamento do colégio à noite e incendiou o carro de Cassiano. Este
incidente trouxe uma rixa tão significante entre os dois candidatos, que
passaram muitos anos na justiça respondendo processos entre si. Foram expulsos
do colégio e abandonaram os estudos.
A cólera é uma emoção enraizada
em todo ser humano. É uma energia que pode ficar incubada ou adormecida por
longo tempo, mas, que pode estourar inesperadamente. É impossível conhecermos
alguém que nunca tenha sido excitado pela cólera. Pois esta emoção, apesar da
fama que possui, é também responsável pela sobrevivência humana. O homem é
tomado pela cólera, principalmente quando se sente ameaçado em qualquer área da
vida, tomando as devidas, e, imediatas, providências para se proteger. São
essas providências, tomadas com a ajuda da cólera, que fazem dela uma emoção
boa ou má. Na narração acima, temos dois exemplos onde a cólera provocou reações
distintas em duas pessoas que queriam preservar sua reputação. No primeiro
caso, a emoção fez Fabiano, tendo sentido que as eleições seriam carregadas de
impropérios, decidir proteger-se renunciando a campanha. Com essa atitude, o
jovem não apenas preservou sua integridade moral, como evitou inimizades,
brigas, e muita dor de cabeça.
Já no segundo caso, a mesma
cólera levou Patrício a pensar que se protegeria retribuindo a ofensa com outra
maior. O rapaz incendiou o carro do seu injuriador num ímpeto de cólera mal
administrado. Conseguiu com essa atitude, inimizade, processo judicial,
expulsão escolar e perturbação por muito tempo.
Nos dois casos, a cólera causou
respostas distintas. E deve ficar claro que foi a resposta dada à cólera, a
responsável pelo futuro dos rapazes. Logo, este sentimento é uma reação natural
intrinsecamente ligada à composição biológica e psíquica do ser humano.
Funciona como uma gangorra. Se a frente estiver mais pesada, o lado de trás
levanta, e, vice-versa. O homem pode está quieto, dormindo, gozando férias, de
bem com a vida, mas, dentro dele existe um dispositivo que, quando acionado,
desencadeia uma excitação na corrente sanguínea e acelera a pressão arterial. O
corpo esquenta, os músculos enrijecem, o raciocínio é bloqueado e o instinto de
sobrevivência pede ao homem o controle da situação. A cólera pede que o “homem animal” reaja para sobreviver,
enquanto que sua vida depende de uma resposta do “homem inteligente” naquele momento. Uma reação errada na hora de um
assalto, em um bate boca, em um acidente de trânsito, numa discussão familiar,
numa competição política, pode trazer um mal pior que os poucos momentos de
estresse causados pela cólera. Quando a resposta à cólera é dada imediatamente,
geralmente vem desacompanhada de raciocínio – capacidade exclusiva da mente
humana, que distingue o homem do animal. Um animal encolerizado, não mede as
conseqüências de seus atos na busca de proteção. Um homem encolerizado pode
optar por continuar sendo homem ou assumir atitude de bicho. Age como bicho
quem responde a cólera sem raciocínio e quem permite que a ira chefie suas
atitudes. Os presídios, os hospitais e os cemitérios recebem diariamente homens
que não conseguiram pensar quando a cólera chegou e se deixaram inundar pela
ilusão de que violência protege a vida. Todos se encolerizarão um dia, mas,
somente aqueles que conseguirem administrar suas atitudes diante dessa emoção, não
sofrerão as sequelas psíquicas e até somáticas oriundas desse sentimento.
Joacil Luis
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