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segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Cólera


Fabiano era um jovem estudante dedicado com uma ótima reputação no seu colégio. Todos os seus colegas o admiravam e reverenciavam suas colocações durante as aulas. No início do seu segundo ano naquele colégio, foi convidado para candidatar-se a presidente do grêmio estudantil da instituição. Além dele, outros dois rapazes também se apresentaram como candidatos. Os três aspirantes ao cargo de presidente tinham 30 dias para apresentar propostas e conquistar os votos dos colegas. Na primeira semana de campanha, no entanto, um dos opositores de Fabiano espalhou panfletos por todo colégio denegrindo sua imagem e insultando o aluno com palavras de baixo nível. Quando leu o panfleto, o rapaz encolerizou-se muito, e, indignado, procurou imediatamente a direção do colégio e retirou seu nome do rol de candidatos ao grêmio. Sabendo de sua renúncia, os outros candidatos procuraram Fabiano separadamente buscando apoio para as eleições.
Este, se desculpando, disse apenas que não estava acostumado com aquele tipo de competição, mas que ficaria torcendo pelos colegas. Os outros candidatos eram: Patrício, da turma da tarde, e Cassiano, da noite. Alguns dias depois da saída do primeiro candidato, a equipe liderada por Cassiano discursou no auditório do colégio e pronunciou palavras agravantes contra a equipe de Patrício, que, ao tomar conhecimento, e, possuído de cólera, invadiu o estacionamento do colégio à noite e incendiou o carro de Cassiano. Este incidente trouxe uma rixa tão significante entre os dois candidatos, que passaram muitos anos na justiça respondendo processos entre si. Foram expulsos do colégio e abandonaram os estudos.

A cólera é uma emoção enraizada em todo ser humano. É uma energia que pode ficar incubada ou adormecida por longo tempo, mas, que pode estourar inesperadamente. É impossível conhecermos alguém que nunca tenha sido excitado pela cólera. Pois esta emoção, apesar da fama que possui, é também responsável pela sobrevivência humana. O homem é tomado pela cólera, principalmente quando se sente ameaçado em qualquer área da vida, tomando as devidas, e, imediatas, providências para se proteger. São essas providências, tomadas com a ajuda da cólera, que fazem dela uma emoção boa ou má. Na narração acima, temos dois exemplos onde a cólera provocou reações distintas em duas pessoas que queriam preservar sua reputação. No primeiro caso, a emoção fez Fabiano, tendo sentido que as eleições seriam carregadas de impropérios, decidir proteger-se renunciando a campanha. Com essa atitude, o jovem não apenas preservou sua integridade moral, como evitou inimizades, brigas, e muita dor de cabeça.

Já no segundo caso, a mesma cólera levou Patrício a pensar que se protegeria retribuindo a ofensa com outra maior. O rapaz incendiou o carro do seu injuriador num ímpeto de cólera mal administrado. Conseguiu com essa atitude, inimizade, processo judicial, expulsão escolar e perturbação por muito tempo.

Nos dois casos, a cólera causou respostas distintas. E deve ficar claro que foi a resposta dada à cólera, a responsável pelo futuro dos rapazes. Logo, este sentimento é uma reação natural intrinsecamente ligada à composição biológica e psíquica do ser humano. Funciona como uma gangorra. Se a frente estiver mais pesada, o lado de trás levanta, e, vice-versa. O homem pode está quieto, dormindo, gozando férias, de bem com a vida, mas, dentro dele existe um dispositivo que, quando acionado, desencadeia uma excitação na corrente sanguínea e acelera a pressão arterial. O corpo esquenta, os músculos enrijecem, o raciocínio é bloqueado e o instinto de sobrevivência pede ao homem o controle da situação. A cólera pede que o “homem animal” reaja para sobreviver, enquanto que sua vida depende de uma resposta do “homem inteligente” naquele momento. Uma reação errada na hora de um assalto, em um bate boca, em um acidente de trânsito, numa discussão familiar, numa competição política, pode trazer um mal pior que os poucos momentos de estresse causados pela cólera. Quando a resposta à cólera é dada imediatamente, geralmente vem desacompanhada de raciocínio – capacidade exclusiva da mente humana, que distingue o homem do animal. Um animal encolerizado, não mede as conseqüências de seus atos na busca de proteção. Um homem encolerizado pode optar por continuar sendo homem ou assumir atitude de bicho. Age como bicho quem responde a cólera sem raciocínio e quem permite que a ira chefie suas atitudes. Os presídios, os hospitais e os cemitérios recebem diariamente homens que não conseguiram pensar quando a cólera chegou e se deixaram inundar pela ilusão de que violência protege a vida. Todos se encolerizarão um dia, mas, somente aqueles que conseguirem administrar suas atitudes diante dessa emoção, não sofrerão as sequelas psíquicas e até somáticas oriundas desse sentimento.

Joacil Luis

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