A
partir de 1913 até meados dos anos 70, a psicologia americana esteve, sob a
influência de Watson, oficialmente afastada de qualquer referência à mente, aos
processos conscientes ou a consciência. Neste período, os principais estudiosos
da psicologia dirigiam-se para a investigação do comportamento humano. Mesmo
assim, muitos pesquisadores, ousavam enfrentar o behaviorismo de Watson,
predominantemente, americano e aprofundar-se em pesquisas cognitivas (SCHULTZ; SCHUTZ,
2007; GOODWIN, 2005).
Watson criticava fortemente a
introspecção opondo-se a qualquer tipo de investigação que não fosse
proveniente de uma produção do organismo. Para ele, o pensamento tratava-se
apenas de uma expressão produzida pelo próprio corpo com auxilio da laringe,
das mãos e das vísceras. Assim, a subjetividade não era contada em suas
pesquisas que se limitavam àquilo que podia ser visto e registrado pela
observação (OLIVEIRA; PIRES, 2007).
Como postula Tourinho (2011), a
psicologia behaviorista via o comportamento humano apenas como uma reação
natural a determinado estímulo apresentado ao corpo, não havendo qualquer
credibilidade em que tal comportamento pudesse sofrer uma influência ocasionada
por processos mentais.
Com este conceito de um
comportamento cientificamente observável e lógico, Watson fundava um
behaviorismo metodológico com pressupostos que rechaçavam pesquisas sobre
introspecção, consciência e mente (NEUFELD; BRUST; STEIN, 2011).
No entanto, o behaviorismo de Watson
recebeu, por volta de 1932, algumas variáveis para complementar o processo
entre estímulo e resposta. Edward Tolman acreditava que, além do estímulo
ambiental, o comportamento poderia ser influenciado por impulsos fisiológicos,
hereditariedade, treinamento e idade.
Ademais, este pesquisador ainda
postulava que o organismo produzia variáveis intervenientes que também poderiam
interferir na resposta comportamental (SCHULTZ; SCHUTZ, 2007).
Pode ser provável que as variáveis
mencionadas por Tolman estejam relacionadas aos processos cognitivos que, a
partir dos anos 70, seriam mais investigados por pesquisadores da psicologia
(KNAPP, 2004).
Isto poderia ser o início do
surgimento público de uma nova visão da psicologia da época. Entendendo-se por
nova apenas o contexto formal do assunto, haja vista que, desde Ebbinghaus,
Wundt e outros pesquisadores clássicos, já se falavam em estudos sobre
fenômenos mentais (GOODWIN, 2005).
Cabe ressaltar, antes de falar em
cognitivismo, que o nome de Skinner não pode deixar de ser mencionado como
propagador de um behaviorismo radical distanciado do paradigma
Estímulo-Resposta (S-R).
Este postulava o condicionamento
operante onde o comportamento, ao invés de ser uma resposta automática qualquer
a um estímulo previamente apresentado, como acreditava Pavlov e Watson, seria a
própria consequência de um comportamento voluntário seguido de reforço ou
punição.
Para Skinner, portanto, o organismo
agia, recebia reforço ou punição e, consequentemente, respondia com repetição
do comportamento, caso fosse recompensado, ou com inibição, caso fosse punido (MELO;
TEIXEIRA, 2011).
Na década de 70 teóricos importantes
como: Aaron Beck, Ellis e Meichenbaum, começaram a denominarem-se como
cognitivo-comportamentais. Isto não os afastava definitivamente dos princípios
de Watson e Skinner, uma vez que o estudo do comportamento não era descartado
de seus objetivos, mas tais teóricos postulavam que o comportamento não era
resultado apenas de associações (S-R) estímulos-respostas ou associação entre
ações e consequências (R-S) e sim, produto também de processos cognitivos que
poderiam ser alterados, trazendo modificação comportamental (GABBARD; BECK;
HOLMES, 2007; KNAPP, 2004; DATTILIO; PADESKY, 1995).
A partir de análises de sonhos de
pacientes deprimidos, Beck interpretou que temas negativos percebidos tanto
nestes estados quanto, quando estavam acordados, podiam ser responsáveis pelo
processo depressivo. A partir disso, começou a formular uma terapia cognitiva
para tratamento da depressão, que posteriormente se estendeu para o tratamento
dos mais variados tipos de psicopatologia, inclusive os transtornos de personalidade
(MYERS, 2006; BECK et al., 2005).
Os transtornos de personalidade
compõem o eixo dois na classificação do DSM-IV e estão divididos nos tipos:
estranhos-excêntricos; impulsivos,
erráticos e imprevisíveis; e ansiosos-medrosos. A psicopatia enquadra-se
no grupo dos impulsivos, erráticos e imprevisíveis (CAMPOS; CAMPOS; SANCHES,
2010; ALVARENGA; FLORES-MENDOZA; GONTIJO, 2009).
Beck, porém, não é único pesquisador
a formular uma teoria cognitiva sobre os transtornos da personalidade. Alguns
autores acreditam que a teoria beckiana possui algumas limitações diante de
transtornos crônicos ou pacientes difíceis. Como resposta a possíveis lacunas
deixadas por Beck, nasceu a teoria dos esquemas de Young, postulando a
existência de 18 esquemas agrupados em 5 categorias. Tais esquemas seriam
construídos precocemente desde a infância através de relações disfuncionais do
indivíduo com familiares, pares e outros. A terapia de Young consiste, então,
em identificar tais esquemas e procurar promover a modificação dos mesmos
(VALENZUELA; CABALO, 2008).
Sobre a teoria cognitiva pode ser
encontrado um variado leque de modelos teóricos, além dos que anteriormente
foram citados. Dentre estes está o Modelo Emocional Comportamental, de Albert
Ellis, cujo foco principal é o pensamento; a Terapia Cognitiva Comportamental,
de Meichembaum e Lazarus, direcionada para o comportamento e o pensamento; a
Terapia construtivista, de Michael Robert e Niemeyer, com foco no sistema de
cognição, emoção, pensamento e comportamento; a terapia Narrativa, de Oscar
Gonçalves, direcionada para o processo histórico e comunicacional e para o
sistema de cognição; a Terapia pós-racionalista, de Vittorio Guidano, focando
revisão do cenário, significado/crença; a Teoria dos Constructos Pessoais, de
George Kelly e Guillen Feixas, priorizando a investigação dos papéis
atribucionais e sociais; a Terapia comportamental Dialécta, de Marsha Linehan,
direcionando-se para a sensopercepção, atenção, Mindfulness e relaxamento; e a
Terapia da Aceitação e Compromisso, de Steven Hayers, lidando com linguagem,
atenção plena e compromisso com as mudanças (MACHADO, 2011).
A Teoria de Beck, no entanto, é
percebida como principal abordagem cognitiva (BAHIS; NAVOLAR, 2004). E é sobre
os pressupostos de Beck e seus colaboradores, que este trabalho prossegue
buscando um caminho para atingir os objetivos propostos.
Neste ínterim, cabe ressaltar que,
para a Teoria Cognitiva, “os pensamentos, sentimentos, comportamentos e
ambiente” podem influenciar-se entre si (DATTILIO; PADESKY, 1995).
Assim, é provável que o pensamento
possa influenciar o comportamento, mas o oposto também é verdadeiro. Também se
pode afirmar que os sentimentos e o ambiente tenham relação entre si na
construção de ações e assim sucessivamente.
Outro pressuposto da teoria de Beck
é a noção de vulnerabilidade cognitiva. Postula o autor que um indivíduo pode
se perceber sujeito a perigos que não pode controlar. Tal percepção torna o
indivíduo suscetível à criação de crenças e pensamentos disfuncionais como
também a produção de sentimentos desadaptativos (CLARK; BECK, 2011; KNAPP;
BECK, 2008).
Michener, DeLamater e Myers (2005),
citando Bandura (1969), postulam que, mesmo quando um comportamento é aprendido
pela observação de um modelo, é provável que ele não seja colocado em prática. Ou seja, pode
ser que os pensamentos e sentimentos sobre tal comportamento impeçam que o
mesmo seja executado pelo indivíduo que o aprendeu.
Ainda sobre pressupostos influentes
no comportamento, Friedberg e McClure (2004), citando Bandura (1977) e Rotter
(1982), ligam a Teoria Cognitivo-comportamental à Teoria da aprendizagem social
e resumem o postulado da última afirmando que:
A teoria da aprendizagem
social parte do pressuposto de que o ambiente, as características
temperamentais e o comportamento situacional de uma pessoa determinam-se
reciprocamente e que o comportamento é um fenômeno dinâmico, em evolução. Os
contextos influenciam o comportamento, e este, por sua vez, molda os contextos;
algumas vezes os contextos podem ter influência mais poderosa sobre o
comportamento de uma pessoa, enquanto em outras, preferências, disposições e
características pessoais determinarão o comportamento (p. 14).
Percebe-se que a citação finaliza
com a ênfase dos autores ao peso ocasional tanto dos contextos quanto dos
processos idiossincrásicos para determinação do comportamento.
Sobre esta última parte, Abreu
(2004) ressalta que, no modelo de Beck, o modo como um indivíduo interpreta
determinada situação pode ter maior influência sobre o comportamento que a
situação em si. Logo ,
os processos cognitivos, segundo destaca o autor, criam uma representação do
mundo exterior, fazendo com que tal situação possa repercutir positiva ou
negativamente sobre o comportamento.
Para Knapp (2004), as bases da
Teoria Cognitivo-comportamental estão no pressuposto de que as cognições
influenciam o comportamento e, ao mesmo tempo, podem ser monitoradas e
alteradas. Quando existe, segundo o autor, uma modificação nas cognições, é
provável que haja uma mudança no comportamento.
Os processos cognitivos são
estruturados, segundo a Teoria Cognitivo-comportamental, em níveis de
pensamentos automáticos (que ocorrem espontaneamente, em forma de sentença ou
imagem, durante algum acontecimento), as crenças intermediárias (ideias mais
profundas e mais resistentes a mudanças que os pensamentos automáticos) e, por
fim, as crenças centrais (que formam as ideias mais rígidas do indivíduo sobre
si, sobre o mundo e sobre o outro) (FALCONE, 2001).
Este artigo é dedicado especialmente aos psicólogos que embasam seus atendimentos na Teoria Cognitivo-comportamental. Trata-se de parte de uma defesa monográfica. O autor, Joacil Luis, é psicólogo clínico cognitivo-comportamental e oferece supervisão para colegas interessados na área. Contato: 83 8745 4396.
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