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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Teoria Cognitivo-comportamental - Um pouco da história. (artigo para psicólogos)


A partir de 1913 até meados dos anos 70, a psicologia americana esteve, sob a influência de Watson, oficialmente afastada de qualquer referência à mente, aos processos conscientes ou a consciência. Neste período, os principais estudiosos da psicologia dirigiam-se para a investigação do comportamento humano. Mesmo assim, muitos pesquisadores, ousavam enfrentar o behaviorismo de Watson, predominantemente, americano e aprofundar-se em pesquisas cognitivas (SCHULTZ; SCHUTZ, 2007; GOODWIN, 2005).
            Watson criticava fortemente a introspecção opondo-se a qualquer tipo de investigação que não fosse proveniente de uma produção do organismo. Para ele, o pensamento tratava-se apenas de uma expressão produzida pelo próprio corpo com auxilio da laringe, das mãos e das vísceras. Assim, a subjetividade não era contada em suas pesquisas que se limitavam àquilo que podia ser visto e registrado pela observação (OLIVEIRA; PIRES, 2007).

            Como postula Tourinho (2011), a psicologia behaviorista via o comportamento humano apenas como uma reação natural a determinado estímulo apresentado ao corpo, não havendo qualquer credibilidade em que tal comportamento pudesse sofrer uma influência ocasionada por processos mentais.
            Com este conceito de um comportamento cientificamente observável e lógico, Watson fundava um behaviorismo metodológico com pressupostos que rechaçavam pesquisas sobre introspecção, consciência e mente (NEUFELD; BRUST; STEIN, 2011).
            No entanto, o behaviorismo de Watson recebeu, por volta de 1932, algumas variáveis para complementar o processo entre estímulo e resposta. Edward Tolman acreditava que, além do estímulo ambiental, o comportamento poderia ser influenciado por impulsos fisiológicos, hereditariedade, treinamento e idade.
            Ademais, este pesquisador ainda postulava que o organismo produzia variáveis intervenientes que também poderiam interferir na resposta comportamental (SCHULTZ; SCHUTZ, 2007).
            Pode ser provável que as variáveis mencionadas por Tolman estejam relacionadas aos processos cognitivos que, a partir dos anos 70, seriam mais investigados por pesquisadores da psicologia (KNAPP, 2004).
            Isto poderia ser o início do surgimento público de uma nova visão da psicologia da época. Entendendo-se por nova apenas o contexto formal do assunto, haja vista que, desde Ebbinghaus, Wundt e outros pesquisadores clássicos, já se falavam em estudos sobre fenômenos mentais (GOODWIN, 2005).
            Cabe ressaltar, antes de falar em cognitivismo, que o nome de Skinner não pode deixar de ser mencionado como propagador de um behaviorismo radical distanciado do paradigma Estímulo-Resposta (S-R).
            Este postulava o condicionamento operante onde o comportamento, ao invés de ser uma resposta automática qualquer a um estímulo previamente apresentado, como acreditava Pavlov e Watson, seria a própria consequência de um comportamento voluntário seguido de reforço ou punição.
            Para Skinner, portanto, o organismo agia, recebia reforço ou punição e, consequentemente, respondia com repetição do comportamento, caso fosse recompensado, ou com inibição, caso fosse punido (MELO; TEIXEIRA, 2011).
            Na década de 70 teóricos importantes como: Aaron Beck, Ellis e Meichenbaum, começaram a denominarem-se como cognitivo-comportamentais. Isto não os afastava definitivamente dos princípios de Watson e Skinner, uma vez que o estudo do comportamento não era descartado de seus objetivos, mas tais teóricos postulavam que o comportamento não era resultado apenas de associações (S-R) estímulos-respostas ou associação entre ações e consequências (R-S) e sim, produto também de processos cognitivos que poderiam ser alterados, trazendo modificação comportamental (GABBARD; BECK; HOLMES, 2007; KNAPP, 2004; DATTILIO; PADESKY, 1995).
            A partir de análises de sonhos de pacientes deprimidos, Beck interpretou que temas negativos percebidos tanto nestes estados quanto, quando estavam acordados, podiam ser responsáveis pelo processo depressivo. A partir disso, começou a formular uma terapia cognitiva para tratamento da depressão, que posteriormente se estendeu para o tratamento dos mais variados tipos de psicopatologia, inclusive os transtornos de personalidade (MYERS, 2006; BECK et al., 2005).
            Os transtornos de personalidade compõem o eixo dois na classificação do DSM-IV e estão divididos nos tipos: estranhos-excêntricos; impulsivos, erráticos e imprevisíveis; e ansiosos-medrosos. A psicopatia enquadra-se no grupo dos impulsivos, erráticos e imprevisíveis (CAMPOS; CAMPOS; SANCHES, 2010; ALVARENGA; FLORES-MENDOZA; GONTIJO, 2009).
            Beck, porém, não é único pesquisador a formular uma teoria cognitiva sobre os transtornos da personalidade. Alguns autores acreditam que a teoria beckiana possui algumas limitações diante de transtornos crônicos ou pacientes difíceis. Como resposta a possíveis lacunas deixadas por Beck, nasceu a teoria dos esquemas de Young, postulando a existência de 18 esquemas agrupados em 5 categorias. Tais esquemas seriam construídos precocemente desde a infância através de relações disfuncionais do indivíduo com familiares, pares e outros. A terapia de Young consiste, então, em identificar tais esquemas e procurar promover a modificação dos mesmos (VALENZUELA; CABALO, 2008).
            Sobre a teoria cognitiva pode ser encontrado um variado leque de modelos teóricos, além dos que anteriormente foram citados. Dentre estes está o Modelo Emocional Comportamental, de Albert Ellis, cujo foco principal é o pensamento; a Terapia Cognitiva Comportamental, de Meichembaum e Lazarus, direcionada para o comportamento e o pensamento; a Terapia construtivista, de Michael Robert e Niemeyer, com foco no sistema de cognição, emoção, pensamento e comportamento; a terapia Narrativa, de Oscar Gonçalves, direcionada para o processo histórico e comunicacional e para o sistema de cognição; a Terapia pós-racionalista, de Vittorio Guidano, focando revisão do cenário, significado/crença; a Teoria dos Constructos Pessoais, de George Kelly e Guillen Feixas, priorizando a investigação dos papéis atribucionais e sociais; a Terapia comportamental Dialécta, de Marsha Linehan, direcionando-se para a sensopercepção, atenção, Mindfulness e relaxamento; e a Terapia da Aceitação e Compromisso, de Steven Hayers, lidando com linguagem, atenção plena e compromisso com as mudanças (MACHADO, 2011).
            A Teoria de Beck, no entanto, é percebida como principal abordagem cognitiva (BAHIS; NAVOLAR, 2004). E é sobre os pressupostos de Beck e seus colaboradores, que este trabalho prossegue buscando um caminho para atingir os objetivos propostos.
            Neste ínterim, cabe ressaltar que, para a Teoria Cognitiva, “os pensamentos, sentimentos, comportamentos e ambiente” podem influenciar-se entre si (DATTILIO; PADESKY, 1995).
            Assim, é provável que o pensamento possa influenciar o comportamento, mas o oposto também é verdadeiro. Também se pode afirmar que os sentimentos e o ambiente tenham relação entre si na construção de ações e assim sucessivamente.
            Outro pressuposto da teoria de Beck é a noção de vulnerabilidade cognitiva. Postula o autor que um indivíduo pode se perceber sujeito a perigos que não pode controlar. Tal percepção torna o indivíduo suscetível à criação de crenças e pensamentos disfuncionais como também a produção de sentimentos desadaptativos (CLARK; BECK, 2011; KNAPP; BECK, 2008).
            Michener, DeLamater e Myers (2005), citando Bandura (1969), postulam que, mesmo quando um comportamento é aprendido pela observação de um modelo, é provável que ele não seja colocado em prática. Ou seja, pode ser que os pensamentos e sentimentos sobre tal comportamento impeçam que o mesmo seja executado pelo indivíduo que o aprendeu.
            Ainda sobre pressupostos influentes no comportamento, Friedberg e McClure (2004), citando Bandura (1977) e Rotter (1982), ligam a Teoria Cognitivo-comportamental à Teoria da aprendizagem social e resumem o postulado da última afirmando que:
A teoria da aprendizagem social parte do pressuposto de que o ambiente, as características temperamentais e o comportamento situacional de uma pessoa determinam-se reciprocamente e que o comportamento é um fenômeno dinâmico, em evolução. Os contextos influenciam o comportamento, e este, por sua vez, molda os contextos; algumas vezes os contextos podem ter influência mais poderosa sobre o comportamento de uma pessoa, enquanto em outras, preferências, disposições e características pessoais determinarão o comportamento (p. 14).
           
            Percebe-se que a citação finaliza com a ênfase dos autores ao peso ocasional tanto dos contextos quanto dos processos idiossincrásicos para determinação do comportamento.
            Sobre esta última parte, Abreu (2004) ressalta que, no modelo de Beck, o modo como um indivíduo interpreta determinada situação pode ter maior influência sobre o comportamento que a situação em si. Logo, os processos cognitivos, segundo destaca o autor, criam uma representação do mundo exterior, fazendo com que tal situação possa repercutir positiva ou negativamente sobre o comportamento.
            Para Knapp (2004), as bases da Teoria Cognitivo-comportamental estão no pressuposto de que as cognições influenciam o comportamento e, ao mesmo tempo, podem ser monitoradas e alteradas. Quando existe, segundo o autor, uma modificação nas cognições, é provável que haja uma mudança no comportamento.
            Os processos cognitivos são estruturados, segundo a Teoria Cognitivo-comportamental, em níveis de pensamentos automáticos (que ocorrem espontaneamente, em forma de sentença ou imagem, durante algum acontecimento), as crenças intermediárias (ideias mais profundas e mais resistentes a mudanças que os pensamentos automáticos) e, por fim, as crenças centrais (que formam as ideias mais rígidas do indivíduo sobre si, sobre o mundo e sobre o outro) (FALCONE, 2001).

Este artigo é dedicado especialmente aos psicólogos que embasam seus atendimentos na Teoria Cognitivo-comportamental. Trata-se de parte de uma defesa monográfica. O autor, Joacil Luis, é psicólogo clínico cognitivo-comportamental e oferece supervisão para colegas interessados na área. Contato: 83 8745 4396.

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