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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Como surge o julgamento do outro

Foto: Júnior Paiva
Pensar algo errado sobre o outro não é uma prática pouco frequente entre os humanos. As suposições, insinuações e imaginações distorcidas levam a comentários enganosos que acabam denegrindo a imagem de alguém ou ferindo pessoas inocentes. Seria, talvez, menos assídua esta prática, se as pessoas soubessem como se forma uma suspeita sobre o outro.

O homem interpreta algo que vem de fora para dentro do seu cérebro a partir daquilo que já existe nele. Quando nada existe sobre o estímulo externo, o processo ocorre por aproximação, ou seja, o cérebro compara o estímulo àquilo que existe na memória que lhe é mais semelhante. Assim, um traço qualquer pode tomar a forma de algum número, letra ou até desenho. Uma nuvem pode parecer como um carneirinho e um grito de socorro ser semelhante ao pedido de ajuda de um filho pequeno que brinca no quintal.

Na interpretação dos fatos que ocorrem com as outras pessoas, cada um julga de acordo com sua própria experiência de vida. Um homem que trai a esposa constantemente não consegue acreditar, por exemplo, que seu colega, que viajou durante 15 dias sozinho, permaneceu fiel à namorada. Para quem julga, o outro sempre se comportará como ele se comportaria. Isto se baseia em um julgamento interno onde o evento é filtrado por algo que poderia ser chamado de esquema. Os esquemas existentes na mente humana induzem o cérebro a interpretar os fatos como eles acreditam que devam ser.

Existe, inclusive, um adágio popular que diz: "quem disso usa, disso cuida". Pode ser que a sabedoria popular, conhecida como senso comum, esteja mais certa do se possa imaginar.  Muitas pessoas ferem as outras porque fazem comparações ou deduções baseadas em sua própria experiência de vida. Esquecem que o ser humano é individual e impar. Podem ser semelhantes, mas nunca serão iguais.

Quando alguém que sempre foi habilidoso em mentir, se encontra em uma situação em que necessita acreditar no outro, se depara com um grande problema, pois seu cérebro não tem, dentro de si, esquemas de confiança. Ele sempre armazenou desconfiança, mentira e engano. Muitas vezes isto reflete no casamento quando um dos cônjuges teve uma vida inteira moldada pela mentira. Havendo necessidade de acreditar no outro, seus esquemas mentais não permitem que a verdade encontre lugar. O máximo que ele pode conseguir é fingir que acredita e alimentar-se da desconfiança, pois a mentira que habita em sua mente contamina sua crença na verdade do outro.

Muitos casamentos são desfeitos porque os parceiros não querem modificar seus esquemas distorcidos, construídos por muito tempo.

Recentemente, a mídia noticiou um casal de mendigos que encontrou R$:20.000,00 em dinheiro e foi, imediatamente, devolver para a polícia. Em entrevista o homem declarou: "minha mãe sempre me ensinou a não pegar coisas dos outros sem autorização". Como o cérebro influenciou na decisão de devolver aquela quantia? Certamente, ao encontrar o dinheiro, o homem procurou em sua mente algo que apoiasse a ideia de ficar com a pequena fortuna, mas não encontrou nada. O mais próximo da situação foi o ensino da sua mãe que ele absorvera durante sua vida. Uma pessoa com esquema mental de honestidade não consegue cometer uma falcatrua.

O que não pode deixar de ser dito, é que a qualquer tempo, desde que haja vontade, a mente poderá ser influenciada para melhor. É possível modificar o passado sujo que habita na mente a recriar esquemas bons e construtivos. Se a mente for modificada, os insultos aos outros diminuirão, os julgamentos prévios cessarão e as pessoas aprenderão que as aparências poderão ser ilusórias e não condizer com a realidade.

Antes, porém, de fazer um julgamento prévio sobre outra pessoa baseado em aparências,  faz-se necessário refletir, se ao condená-la, não estará mostrando exatamente o que faria se estivesse no seu lugar.

Joacil Luis - Psicólogo - CRP 13/6160            Contato: 8745 4396.

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